Flor chega
em casa furiosa. Joga a bolsa no sofá, bebe água e olha o celular. Percebe que
tem pelo menos dez mensagens. Ignora todas e busca o grupo de whatssap
“Mulheres de poder”
- Meninas,
preciso falar com vocês. Agora, É U R G
E N T E!
No grupo
ninguém se manifesta. Ela resolve tomar um banho. Em poucos minutos volta para
o celular.
- Que droga!
Quando eu preciso dessas meninas elas somem... Milla deve estar com algum cara,
certeza! – Ela fica pensativa. – Isadora esta trabalhando ou dormindo. – Ah que
bom! Flor solta um grito. – Bella visualizou.
- Bella,
preciso conversar, é urgente!
- Flor, são
duas da manhã. – Responde Bella.
- Amanha é
sexta-feira! Posso te ligar?
_ E adianta
dizer não?
Bella atende
o telefone.
- Oi Flor o
que aconteceu? Te conhecendo eu imagino que não é nada como uma doença grave ou
um acidente de carro!
- Credo,
claro que não! As palavras têm poder, não brinca com isso não.
- Ufa. – Você
ama nos assustar.
- Você é
exagerada, mas eu te amo. – Flor suspira. – Me fala uma coisa, que cor eu pinto
as minhas unhas, amanhã tenho uma reunião importante, quero me sentir incrível!
- Pelo amor
de Deus sua louca! Você me liga as 2:30 da manhã pra perguntar se deve pintar
as unhas de azul ou vermelho?
- Calma
amiga! – Flor se diverte. – Lógico que não é isso Bella, eu só quis aproveitar a ligação. – Flor
gargalha. Mas colocar o vermelho pra brigar com azul é covardia, já ta
escolhido. É Rubro.
- Diz o que
aconteceu logo Flor, eu estava terminando o episódio da série que adoro, para
de enrolar falando da cor da sua unha.
- Ah ta. –
Flor muda o ton de voz. – Só de pensar fico nervosa. você se lembra que hoje
era eu ia sair com o William ne.
- Sim,
claro. Até pensei que ele iria te pedir em namoro, vocês estão se vendo a algum
tempo neh.
- Mais ou
menos. Não sei se é boa ou ruim esta intimidade, quando eu penso que vou voltar
a querer acreditar em amor romântico os caras ferram com tudo.
- Vixe, já
vi que esta conversa vai ser longa. você não quer falar disso amanhã Flor?
- Pelo amor
de Deus, depois que eu te contar o que aconteceu vai entender o tamanho da
minha aflição.
- O que pode
ser tão grave Flor? – Bella bufou. – Se a história não for boa vou bloquear o
seu contato por uma semana, de castigo, por atrapalhar a minha série.
- Para de
fazer piada Bella, esta série esta gravada, e ta cheio de spoiler na internet.
– Flor ajeitou o telefone para que a amiga visse bem os seus movimentos
enquanto ela pintava as unhas.
- Conte,
você parece nervosa mesmo.
- Eu to uma
pilha! Primeiro ele me disse que íamos sair as 7 da noite. Me arrumei e tals,
você sabe que eu amo me cuidar, eu ia sair pra arrasar neh.
- Sei, sei,
imagino que estava bem vestida.
- Eu não
ligo de sair de tênis e moletom, desde que a gente vá para uma caminhada ou
coisa do tipo. Uma roupa pra cada ocasião, não é mesmo?
- Logico!
Mas e ai, vocês saíram muito tarde?
- Não. Ele
me avisou e veio as 8. Disse que iriamos jantar. – Flor bufou. – Pensei: Pelo
menos vou comer, to morrendo de fome. Já que não vou a nenhum lugar diferente.
- Certo, não
estou entendendo o drama, mas prossiga.
- Vou te
falar Bella. Não é só no circo que tem palhaço!
- Agora que
não entendi nada! – O que ele te fez pra você ofender os palhaços dessa
maneira. – Ela gargalhou.
- Eu adoro
palhaços, é uma manifestação artística linda, mas prefiro que estejam no circo,
naquelas apresentações glamorosas e felizes. – Mas o Willian foi muito sem
noção. Realmente estou ofendendo os palhaços, mas você vai entender.
- Espero que
sim.
- Quando ele
chegou e eu entrei no carro vi que ele estava tipo... largado. Parecia que nem
banho tinha tomado. Pensei logo que ele me chamaria pra ir pra casa dele, e a
minha maquiagem e meu visual de cabelos arrumados bota cano alto e baton novo
seriam desperdiçados com o travesseiro.
- Você é terrível,
Flor! – Bella ri. – Ele estava tipo maltrapilho?
- Amei esta
palavra, se parece muito com o que ele estava. – Flor gargalha.
- E dai o
que aconteceu. Você disse o que?
- Perguntei
se ele ia passar em casa pra se trocar e tomar banho. E ele me olhou espantado,
como se eu tivesse xingado a mãe dele.
- Ele é
estranho este cara.
- Muito! –
Flor arregalou os olhos confirmando o que havia acabado de dizer. – Então
fomos. E ele passou direto da casa dele, e falou vamos naquele lugar que vende
esfirras, comemos e voltamos pra casa.
- Serio? –
Bella ri. – Sem imaginação ele.
- Tudo bem
ir naquele lugar.
- Não está
tudo bem! Ele está querendo te surpreender, te encantar? E toda vez que vocês
saem vai pro mesmo lugar e nem se arruma. Calma ai amiga, pra fazer isso melhor
chamar a galera e curtir um som que você curte.
- Não me
deixa depre, Bella. – Preciso que me ouça, porque o pior esta por vir?
- E tem
pior?
- Sim. –
Flor engole seco. – O que agüentamos pensando numa noite de prazer é brincadeira.
- Espero que
pelo menos isso faça valer. – Bella resmunga
- Para de me
interromper, Bella. A coisa é séria.
- To vendo.
- Quando
entramos no restaurante, ele estava vestindo uma calça de moletom de barra
larga, tipo aquelas calças de palhaço, uma camiseta velha preta, tipo sem cor,
e a cara estava “acordei agora”. Entramos e todas as pessoas se viraram pra
nós, parecia que tinham ensaiado. E ele soltou: “Nossa, você ta parecendo uma
princesa, e eu um andarilho.” Eu fiquei
vermelha, sem graça. Me senti mal por ter me vestido daquele jeito.
- Mas é o
seu jeito, Flor. Você não precisa se envergonhar disso. Ele que foi sem graça.
- Mas e se
este for o jeito dele? Eu preciso respeitar.
- Flor, você
não precisa nada! Isso não quer dizer que você é preconceituosa, além disso
vocês já saíram antes e ele não se vestiu assim. Pra mim pareceu desleixo,
tipo: Eu não me importo de me arrumar pra te ver.
- Nossa,
será? Que maldade.
- Acredito
nesta teoria. E você pensa o que?
- Não sei.
Talvez ele não tenha tido tempo, estava cansado... Eu não sei o que pensei. Mas
não gostei de entrar no restaurante e estar com um palhaço, sem estar no circo,
e pior, sem ele me fazer rir.
- Flor, isto
é muito sério. – você saiu de casa, se arrumou, organizou o seu TEMPO, você
poderia estar fazendo N coisas neste momento, e se arrumou pra fazer companhia
para uma pessoa que não pensou em tomar banho pra te ver?
- Nossa, que
pesado! Eu só estava brava porque além de tudo ele não reparou na minha roupa,
ou no meu cabelo... Nada! Só quando ficou com vergonha que me elogiou, e ainda
tipo fazendo “graça” do contraste.
- Gata, cai
fora que é cilada!
- Eu não
tinha percebido assim. – Flor fica pensativa.
- Mas
imagina se isso evolui pra um namoro e você decide dedicar mais tempo pra um
cara que ao invés de encantar faz este tipo de coisa.
- Mas se eu
for tão intolerante vou ficar sozinha.
- Nossa, eu
não estou ouvindo isso de você! Prefiro que você pergunte a cor do esmalte que
deve usar. – Bela gargalha. – Ouça o que você está dizendo. Minha amiga, a sua
vida de solteira é maravilhosa, você dança, viaja, paga as suas contas, pelo
amor de Deus. O que este cara fez, seqüestrou a minha amiga?
- Pegadinha
da malandra! – Flor começa a rir. - Era só pra ver se você estava esperta
mesmo.
- Ufa! –
Bella põe a mão no peito. Eu já estava preocupada. – Pensei que tivesse voltado
pra casa com ele.
- Em outros
tempos eu voltaria, mas a gente vive as situações pra aprender com elas, não é
mesmo?
- Sim,
claro. E o que aconteceu com ele? O que você fez
- Ah
amiga... Depois que ele disse que não tinha percebido que a minha maquiagem era
diferente da que eu usei da última vez achei que era desaforo demais.
- Como
assim?
- Uma
maquiagem cara, fiquei com a pele linda e saudável, e nem parecia que estava
usando maquiagem, como uma pessoa tem a coragem de dizer que está normal?
Deixei ele por lá, e voltei de uber.
- você é
doida! – Bella ri empolgada. – Te amo garota!
- Que bom
amiga! Eu também.
- Agora me
responda.... – Ela coloca as mãos na frente da tela. – Minhas unhas vermelhas
ficaram ou não lindas?
Bela
gargalha.
- Sua louca!
- É a cor do
amor! Eu não desisto, mas menos do que eu mereço estou dispensando.
Texto: Grazy Nazario