quinta-feira, 27 de outubro de 2022

Não é só no circo que tem palhaço

 

Flor chega em casa furiosa. Joga a bolsa no sofá, bebe água e olha o celular. Percebe que tem pelo menos dez mensagens. Ignora todas e busca o grupo de whatssap “Mulheres de poder”

- Meninas, preciso falar com vocês. Agora, É  U R G E N T E!

No grupo ninguém se manifesta. Ela resolve tomar um banho. Em poucos minutos volta para o celular.

- Que droga! Quando eu preciso dessas meninas elas somem... Milla deve estar com algum cara, certeza! – Ela fica pensativa. – Isadora esta trabalhando ou dormindo. – Ah que bom! Flor solta um grito. – Bella visualizou.

- Bella, preciso conversar, é urgente!

- Flor, são duas da manhã. – Responde Bella.

- Amanha é sexta-feira! Posso te ligar?

_ E adianta dizer não?

Bella atende o telefone.

- Oi Flor o que aconteceu? Te conhecendo eu imagino que não é nada como uma doença grave ou um acidente de carro!

- Credo, claro que não! As palavras têm poder, não brinca com isso não.

- Ufa. – Você ama nos assustar.

- Você é exagerada, mas eu te amo. – Flor suspira. – Me fala uma coisa, que cor eu pinto as minhas unhas, amanhã tenho uma reunião importante, quero me sentir incrível!

- Pelo amor de Deus sua louca! Você me liga as 2:30 da manhã pra perguntar se deve pintar as unhas de azul ou vermelho?

- Calma amiga! – Flor se diverte. – Lógico que não é isso Bella,  eu só quis aproveitar a ligação. – Flor gargalha. Mas colocar o vermelho pra brigar com azul é covardia, já ta escolhido. É Rubro.

- Diz o que aconteceu logo Flor, eu estava terminando o episódio da série que adoro, para de enrolar falando da cor da sua unha.

- Ah ta. – Flor muda o ton de voz. – Só de pensar fico nervosa. você se lembra que hoje era eu ia sair com o William ne.

- Sim, claro. Até pensei que ele iria te pedir em namoro, vocês estão se vendo a algum tempo neh.

- Mais ou menos. Não sei se é boa ou ruim esta intimidade, quando eu penso que vou voltar a querer acreditar em amor romântico os caras ferram com tudo.

- Vixe, já vi que esta conversa vai ser longa. você não quer falar disso amanhã Flor?

- Pelo amor de Deus, depois que eu te contar o que aconteceu vai entender o tamanho da minha aflição.

- O que pode ser tão grave Flor? – Bella bufou. – Se a história não for boa vou bloquear o seu contato por uma semana, de castigo, por atrapalhar a minha série.

- Para de fazer piada Bella, esta série esta gravada, e ta cheio de spoiler na internet. – Flor ajeitou o telefone para que a amiga visse bem os seus movimentos enquanto ela pintava as unhas.

- Conte, você parece nervosa mesmo.

- Eu to uma pilha! Primeiro ele me disse que íamos sair as 7 da noite. Me arrumei e tals, você sabe que eu amo me cuidar, eu ia sair pra arrasar neh.

- Sei, sei, imagino que estava bem vestida.

- Eu não ligo de sair de tênis e moletom, desde que a gente vá para uma caminhada ou coisa do tipo. Uma roupa pra cada ocasião, não é mesmo?

- Logico! Mas e ai, vocês saíram muito tarde?

- Não. Ele me avisou e veio as 8. Disse que iriamos jantar. – Flor bufou. – Pensei: Pelo menos vou comer, to morrendo de fome. Já que não vou a nenhum lugar diferente.

- Certo, não estou entendendo o drama, mas prossiga.

- Vou te falar Bella. Não é só no circo que tem palhaço!

- Agora que não entendi nada! – O que ele te fez pra você ofender os palhaços dessa maneira. – Ela gargalhou.

- Eu adoro palhaços, é uma manifestação artística linda, mas prefiro que estejam no circo, naquelas apresentações glamorosas e felizes. – Mas o Willian foi muito sem noção. Realmente estou ofendendo os palhaços, mas você vai entender.

- Espero que sim.

- Quando ele chegou e eu entrei no carro vi que ele estava tipo... largado. Parecia que nem banho tinha tomado. Pensei logo que ele me chamaria pra ir pra casa dele, e a minha maquiagem e meu visual de cabelos arrumados bota cano alto e baton novo seriam desperdiçados com o travesseiro.

- Você é terrível, Flor! – Bella ri. – Ele estava tipo maltrapilho?

- Amei esta palavra, se parece muito com o que ele estava. – Flor gargalha.

- E dai o que aconteceu. Você disse o que?

- Perguntei se ele ia passar em casa pra se trocar e tomar banho. E ele me olhou espantado, como se eu tivesse xingado a mãe dele.

- Ele é estranho este cara.

- Muito! – Flor arregalou os olhos confirmando o que havia acabado de dizer. – Então fomos. E ele passou direto da casa dele, e falou vamos naquele lugar que vende esfirras, comemos e voltamos pra casa.

- Serio? – Bella ri. – Sem imaginação ele.

- Tudo bem ir naquele lugar.

- Não está tudo bem! Ele está querendo te surpreender, te encantar? E toda vez que vocês saem vai pro mesmo lugar e nem se arruma. Calma ai amiga, pra fazer isso melhor chamar a galera e curtir um som que você curte.

- Não me deixa depre, Bella. – Preciso que me ouça, porque o pior esta por vir?

- E tem pior?

- Sim. – Flor engole seco. – O que agüentamos pensando numa noite de prazer é brincadeira.

- Espero que pelo menos isso faça valer. – Bella resmunga

- Para de me interromper, Bella. A coisa é séria.

- To vendo.

- Quando entramos no restaurante, ele estava vestindo uma calça de moletom de barra larga, tipo aquelas calças de palhaço, uma camiseta velha preta, tipo sem cor, e a cara estava “acordei agora”. Entramos e todas as pessoas se viraram pra nós, parecia que tinham ensaiado. E ele soltou: “Nossa, você ta parecendo uma princesa, e eu um andarilho.”  Eu fiquei vermelha, sem graça. Me senti mal por ter me vestido daquele jeito.

- Mas é o seu jeito, Flor. Você não precisa se envergonhar disso. Ele que foi sem graça.

- Mas e se este for o jeito dele? Eu preciso respeitar.

- Flor, você não precisa nada! Isso não quer dizer que você é preconceituosa, além disso vocês já saíram antes e ele não se vestiu assim. Pra mim pareceu desleixo, tipo: Eu não me importo de me arrumar pra te ver.

- Nossa, será? Que maldade.

- Acredito nesta teoria. E você pensa o que?

- Não sei. Talvez ele não tenha tido tempo, estava cansado... Eu não sei o que pensei. Mas não gostei de entrar no restaurante e estar com um palhaço, sem estar no circo, e pior, sem ele me fazer rir.

- Flor, isto é muito sério. – você saiu de casa, se arrumou, organizou o seu TEMPO, você poderia estar fazendo N coisas neste momento, e se arrumou pra fazer companhia para uma pessoa que não pensou em tomar banho pra te ver?

- Nossa, que pesado! Eu só estava brava porque além de tudo ele não reparou na minha roupa, ou no meu cabelo... Nada! Só quando ficou com vergonha que me elogiou, e ainda tipo fazendo “graça” do contraste.

- Gata, cai fora que é cilada!

- Eu não tinha percebido assim. – Flor fica pensativa.

- Mas imagina se isso evolui pra um namoro e você decide dedicar mais tempo pra um cara que ao invés de encantar faz este tipo de coisa.

- Mas se eu for tão intolerante vou ficar sozinha.

- Nossa, eu não estou ouvindo isso de você! Prefiro que você pergunte a cor do esmalte que deve usar. – Bela gargalha. – Ouça o que você está dizendo. Minha amiga, a sua vida de solteira é maravilhosa, você dança, viaja, paga as suas contas, pelo amor de Deus. O que este cara fez, seqüestrou a minha amiga?

- Pegadinha da malandra! – Flor começa a rir. - Era só pra ver se você estava esperta mesmo.

- Ufa! – Bella põe a mão no peito. Eu já estava preocupada. – Pensei que tivesse voltado pra casa com ele.

- Em outros tempos eu voltaria, mas a gente vive as situações pra aprender com elas, não é mesmo?

- Sim, claro. E o que aconteceu com ele? O que você fez

- Ah amiga... Depois que ele disse que não tinha percebido que a minha maquiagem era diferente da que eu usei da última vez achei que era desaforo demais.

- Como assim?

- Uma maquiagem cara, fiquei com a pele linda e saudável, e nem parecia que estava usando maquiagem, como uma pessoa tem a coragem de dizer que está normal? Deixei ele por lá, e voltei de uber.

- você é doida! – Bella ri empolgada. – Te amo garota!

- Que bom amiga! Eu também.

- Agora me responda.... – Ela coloca as mãos na frente da tela. – Minhas unhas vermelhas ficaram ou não lindas?

Bela gargalha.

- Sua louca!

- É a cor do amor! Eu não desisto, mas menos do que eu mereço estou dispensando.




Texto: Grazy Nazario

quinta-feira, 10 de março de 2022

Mulheres de Poder - Festa na Piscina

 

As quatro amigas estão num quarto conversando.

- Uma loucura mulheres da nossa idade com estas crianças. – Resmunga Milla.

- Tá me chamando de velha, Milla? – Responde Isadora espantada.

Milla gargalhou.

- Lógico que não amiga! Mas é estranho, fico um pouco deslocada.

- Pois eu adoro. – Diz Flor satisfeita. – A juventude é incrível.

- Eu não tenho outra escolha, preciso ir soltando o Matheus aos poucos. – Responde Isadora com certa aflição.

Flor encara a amiga de braços cruzados.

- Quem vê você falando pensa que o Matheus tem 5 anos.

- Eu estou aprendendo a ficar de boa, Flor. Será que você pode respeitar o meu tempo?

Milla levanta:

- Tomara que não dure até os 36 anos do Matheus. 

- Exagerada! – Reponde Isadora. – Meninas, o Matheus acabou de fazer 18 anos, não é de uma hora pra outra que a gente deixa o menino sair sozinho pra uma festa na piscina com os amigos.

As três amigas ficaram em silêncio encarando Isadora.

Neste momento ouve-se um barulho estrondoso, como se algo tivesse caído. Isadora fica pálida.

- Gente, o que foi isso?

-Vamos ver! – Diz Bella, e sai correndo puxando o “bonde das mulheres de poder”.

Assim que chegaram na piscina viram uma “briga” generalizada, tendo como trilha sonora um funk. 

Duas meninas discutem. Matheus levantava a caixa de som no alto. 

- Tia Isadora! – Grita a amiga de Matheus. – Ela para de discutir com uma moça e vem em sua direção.

- Tia!? – Resmungou Milla. – Se esta garota me chamar de tia, eu voo na cara dela.

- Cala a Boca, Milla. A coisa é séria. – Responde Flor.

- Mas me chamar de tia, também! -  Milla Retruca. 

Flor a fuzila com os olhos.

- Ta bom, ta bom....

- O que está acontecendo Marcela? – Pergunta Isadora quando percebe que todos estão assustados.

- O Matheus tentou me impedir, mas eu não aceito!

- Abaixa este som, pelo amor de Deus. Vamos enlouquecer. – Grita Isadora.

Bella abaixa o som, olha todos os “grupinhos”, e faz um movimento de calma entre os amigos e amigas. Os ânimos parecem se acalmar.  

A moça que discutia com Marcela está em silencio.

- Você pode falar o que está acontecendo, Marcela?

- Tia, este menino. Ela apontou pra um rapaz que estava de frente pra ela. – Então, ele é namorado desta menina, a Luiza. Ela estava brincando com a gente na piscina.

- Quem estava brincando? – Pergunta Milla.

- Todas as meninas, era um jogo de meninas! – Diz Marcela satisfeita.

- Tá e ai. – Responde Isadora.

- Daí este cara. – Ela apontou pro rapaz. – O Luiz Fernando, ele é namorado da Luiza.

- Continua.

- Ele tirou a menina da piscina feito um louco, segurando o braço dela com violência, só porque a gente estava se divertindo. Ele é muito machista!

- Espera ai, não foi assim também! – Disse Luiz se intrometendo.

- Calma ai rapaz! – Isadora levantou a mão na cara dele.

- Você sabe de quem é esta história? Mulheres de Poder, logo, vamos ouvir as mulheres envolvidas. por hora homem não tem voz neste tribunal.

- Perfeita! – Diz Flor ao bater palmas.

Todas as amigas olham para Flor.

- Desculpa, gente. Me empolguei.

Isadora se vira para Marcella.

- Marcela o que você quer dizer? Ele bateu na namorada, é isso?

- Não chegou a bater...

- Calma meninas, não é só agressão física que é violência. – Diz Bella.

- Isso mesmo! – Completa Flor. – A garota tem razão em se intrometer.

- Não põe lenha na fogueira, Flor. – Resmunga Milla.

- Não é lenha!

- Calma, gente! – Diz Bella. – Deixem a Marcela falar, e a Luiza. Diz meninas, o que causou esta guerra e fez vocês derrubarem o som, “sem desligar a música”. – Bella Sorri.

- Foi o seguinte. Estávamos brincando na piscina, e a Luiza estava subindo e descendo e brincando, daí o Luiz Fernando ficou irritado e disse que ia levar ela pra dormir por conta que ela tinha bebido muito.

- Todo mundo aqui tem 18 anos, não é verdade? – Diz Bella.

- Mas isso também não quer dizer nada, por que podemos ter resp... – Diz Flor.

Bella olha pra amiga com cara de má.

- Ta, depois eu falo disso...

Bella concorda com a cabeça.

Todxs que estão ali respondem que sim.

- Legal. Sendo assim, Luiz Fernando, caso a Luiza não esteja se afogando ou necessitando de ajuda médica, nem você ou ninguém deve segurar o braço dela com violência. Isso não está certo.

A menina que discutia com Marcela levantou a mão.

 - Posso falar uma coisa?

- Lá vem o patriarcado. – Resmunga Flor.

Todos olharam pra ela.

- Eu sou amiga do Luiz Fernando e da Luiza. E sempre que saímos assim ela dá este tipo de show, fica bebendo...

- E se divertindo? – Diz Flor atropelando. – E esta não é a intenção? – Ou quando ele está feliz com os amigos é normal ela apertar os braços dele e mandar ele ir dormir.

- É bem capaz... – Responde a moça.

- Olhem, eu não conheço o namoro de vocês, se é uma relação abusiva para os dois lados, seria legal vocês fazerem terapia nesta idade, pra quando ficarem adultos as coisas não ficarem pior. – Diz Isadora.

Milla se aproxima:

- Gente, não adianta se meter nisso. Briga de marido e mulher....

- Nem completa, Milla. Se não eu vou ter que começar uma briga com você – Diz Flor.

- Tia, me desculpe. – Mas eu não concordo com isso. Eu sempre falo disso com minha mãe e irmãs. – Diz Marcela. – Não podemos deixar os machistas à vontade, não podem ir á qualquer lugar, serem abusivos e todo mundo fingir que não ta vendo. O Matheus tentou me impedir e levou um empurrão, por isso a caixa de som caiu, eu fui pra cima do Luiz, e iria de novo. Comigo, na minha frente e onde eu estiver machista não se cria!

- Que linda! – Vibra Flor. – Quer ir morar comigo por um mês? Por isso eu amo a juventude.

- Que bonita fala, Marcela. – Diz Bella. – Você está certíssima. – E você erradíssimo Luiz. Relacionamento abusivo não é bom pra ninguém, mas homens geralmente tendem a ser agressivos com mais facilidade que as mulheres.

Luiz Fernando ficou quieto, com o semblante envergonhado.

- Eu sei que não é fácil mudar, mas olhe novamente a sua atitude. Isto não é amor. Precisamos oferecer cursinhos antimachistas para toda a humanidade.

- Esta certíssima! Eu super concordo. E é claro que devemos chamar a Marcela, ela foi certeira! – Diz Flor com empolgação.

- Este caso não é pra chamar a polícia, mas poderia ser. – Completa Bella.

Luiz arregalou os olhos.

- Falo que não é por que a agressão não passou disso, mas e se ninguém intervisse e você continuasse a agir como se fosse dono da Luiza? É bom vocês pensarem nisso. – Bella disse em tom sério.

- Que bom que tudo foi resolvido, mesmo que, temporariamente. Depois podemos conversar mais, ok. – Diz Isadora. – Agora vamos entrar, tomar uma água...

- Desculpa, a todos. – Disse Luiz Fernando. – E em seguida foi até a namorada. – Desculpa, eu vou cuidar disso em mim.

- Muito importante a sua atitude, Luiz. – Diz Bella. – Mas é importante rever esta postura. Todos nós estamos aprendendo sempre.

As amigas se aproximaram de Milla, que estava encostada na parede com a cara emburrada.

- Ta tudo bem, Milla? – Pergunta Isadora.

- Nossa, ainda bem que eu estava aqui. –  Diz Isadora.

- Que nada, Isadora. – Flor interrompe aos risos. – Se você não estivesse aqui a Marcela resolveria tudo numa boa.

- Concordo. – Diz Bella.

- Pois eu não concordo com nenhuma de vocês. – Responde Milla irritada.

- Milla não fica brava com a menina porque aquele seu comentário é do século passado, nada a ver falar aquilo.

- Eu não tô nem aí por ela me interromper, só que se ela vir me chamar de “tia” de novo eu vou falar: “Tia é a sua avó”!

Todas gargalham.

FIM. 



Texto: Grazy Nazario.

domingo, 2 de janeiro de 2022

Agradecendo 2021, recebendo 2022! - Mulheres de Poder


 

 

Isadora e Bella estão em sua casa.

- Cadê a Milla que não chega? – Diz Bella impaciente.

- Calma Bella, logo elas chegam. Aproveita pra relaxar e assistir a retrospectiva 2021.

- Eu não quero, só tem coisa ruim. Eu já vi uma na internet e foi horrível. – Responde Bella.

- Não é bem assim vai...  – Diz Isadora.

- Cheguei, meninas! – Diz Milla. - Estou muito animada com a nossa viagem de Réveillon. – Ela suspira aliviada. – Pensei que isso nunca mais seria possível.

- Até que enfim você chegou! – Responde Bella. – Agora só falta a Flor.

- Oi pra você também, Bella. Está tudo bem com você?

Isadora olha para Milla e estende as mãos como quem não entende nada.

Milla se ajeita próximo a Isadora.

Horas depois Flor chega.

- Eu acho que é melhor não irmos mais. Flor você é uma irresponsável! – Diz Bella irritada. – Vamos passar o Reveillon no meio da estrada.

- Não é pra tanto, Bella. – Interfere Isadora. – Se sairmos daqui agora chegaremos na praia a tempo de ver os fogos.

- Aconteceu alguns imprevistos – Diz Flor desajeitada. – Mas não quero atrasar vocês, nem começar o ano brigando com as minhas melhores amigas.

- Mas não foi combinado ir mais cedo? O que tanto você tinha pra fazer? – Diz Bella.

- Eu tive imprevistos. – Esta energia está péssima para a entrada do ano novo, vou precisar de horas para equilibrar o meu chakras.

- Calma Flor. – Diz Milla. – Eu voto pra gente sair daqui agora, e vai dar tudo certo.

- Eu também. – Diz Isadora.

- Vamos arriscar. – Confirma Bella, aparentando mais calma.

- Então simbora, meninas. – Diz Isadora.

 

Todas entram no carro, e seguem rumo a viagem.

 

- Eu conheço um caminho alternativo, acho que estará menos trânsito. O que vocês acham? Sugere, Flor.

- Eu super topo, deve ta o maior transito pelo caminho normal.

- Que caminho é este, Flor? Você conhece mesmo? Porque logo já vai ficar noite. – Pergunta Isadora.

- Logico que conheço né, gente. Vem comigo que vocês passam de ano, literalmente.

Todas riem.

- Por mim, tudo bem. – Diz Bella. – Eu não quero ser a estraga rolê do final de ano depois da maior pandemia o século.

- OK. Que bom, como todas concordaram, vamos embora.

 

Flor está dirigindo pela estrada.

 

- Gente, acho melhor parar no próximo posto de gasolina.

- Você não abasteceu o carro, Flor? – Pergunta Isadora.

- Lógico que sim!

- Ah ta, e quer parar no posto por quê?

- Porque eu ouvi um barulho estranho.

- Ahhhhhh não! – Falam todas juntas.

- Parem de brigar, gente. Vocês me deixam mais ansiosa. – Resmunga Flor.

- Eu sabia que não chegaríamos a tempo na praia pra pular as setes ondas. – Bella revira os olhos.

Flor avista um posto de gasolina, e encosta. Após o frentista falar um tempo com Flor, ela volta para o carro.

 

- Gente, acho que não vamos conseguir sair daqui agora. – Diz Flor sem graça.

- Como assim, Flor? – Você ta louca né? – Diz Bella.

- E você está muito grossa, Bella. – Responde Flor.

- Calma gente! – Interfere Isadora. – Não começa vocês duas. – Por que não podemos seguir viagem?

- O rapaz disse que tem uma peça solta, e que é melhor a gente não seguir viagem. Ele disse que vai ligar para um primo dele que é mecânico, e disse que logo ele vem pra cá.

- E você acha que alguém vai vir pra este fim de mundo na véspera de ano novo? – Mila gargalha. – Você é muito sonhadora, amiga.

- Logico que ele vem! Não ta louco, vai mentir pra que?

- Porque as pessoas mentem, Flor. Simples assim.

- Não acredito. – Vou lá falar com ele.

Não! – Diz Isadora. – Vamos pensar aqui juntas. O que mais podemos fazer, outras opções.

- Não tem outras opções, Isadora. Véspera de ano novo, ninguém está trabalhando hoje a esta hora.

- Mas e o seguro? Eles precisam vir, porque trabalham com plantão. - Diz Flor.

- Sim, um funcionário para a cidade toda, o estado, quem sabe... de qualquer jeito, hoje fica difícil

- Mas vamos chamar, não vamos ficar paradas. – Diz Milla. – A hora que chegar, chegou.

- Você não fez a revisão neste carro, Flor. Foi só o que eu te pedi. – Diz Bella.

- Eu não consegui. – Responde Flor com a voz chorosa. – Mas eu quase não uso este carro.

Todas olham ao mesmo tempo para Flor.

- Ta bom, vou ficar quieta. – Resmunga Flor.

- Melhor mesmo. – Diz Bella irritada.

- Por que você está pegando tanto no meu pé? – Flor pergunta. – Que viagem chata com você com este mau humor. Preciso alinhar os meus chakras antes da virada!

- Para, Flor! Me deixa em paz. – Diz Bella irritada, e sai de perto.

Milla e Isadora se olham.

Isadora vai atrás de Bella.

 

- Eu não to entendendo nada! – Diz Flor.

- Calma, amiga. Eu também estou achando ela super estranha.

- Mas eu não tenho culpa, Milla.

- Eu sei, ninguém tem.

- E tudo fica brigando, que chata! Na nossa primeira viagem depois da pandemia fica estragando tudo.

- Não é bem assim né, Flor. O combinado foi de irmos com o seu carro porque era o mais novo, e porque você confirmou que faria a revisão bem antes.

- Eu sei, mas acabei esquecendo. Final de ano precisamos fazer muitas coisas.

- Eu sei, mas todo mundo precisa fazer isso...

Isadora e Bella retornam.

- Desculpa, meninas. Eu estou muito nervosa, mas na verdade não é com vocês.

Ambas ficaram quietas.

- É que este é o primeiro ano, depois de muito tempo sem contato com o pai da Sophia, e este é o primeiro final do ano que ela fica longe de mim.

- Mas que exagero, Isadora, ela não é só sua filha...

-Cala a boca, Flor. – Diz Milla entre os dentes.

- Eu sei disso, Flor. Mas é um passo difícil.

- A sua filha não vai ser criança pra sempre! Ela vai decidir os próprios passos.

- Eu vou te socar, Flor. – Diz Isadora.

Flor percebe que Bella está chorando e decide se calar.

- São muitos sentimentos envolvidos, eu sei que parece egoísta.

Flor olha para a amiga.

- Sim, é um pouco egoísta. Mas não é fácil mudar hábitos e pensamentos de um dia para o outro. – Diz Bella. – Eu conversei um pouco com a Isadora. E resolvi vir aqui falar com vocês.

- Amiga, eu te entendo. Quer dizer, quase te entendo, porque não tenho filhos. Mas me coloco no seu lugar, e imagino que deve ser uma loucura, ainda mais depois da pandemia. – Diz Milla.

- Sim, foi uma decisão do juiz. Eu jamais deixaria...

- Então, me desculpa Bella, mas amor de verdade não é isso aí não. E não adianta vocês me olharem com esta cara feia. Veja só, ela perguntou pra garota o que ela gostaria? A menina tem 11 anos, sente falta do contato com o pai, ela sempre foi próxima e querida pela família dele, a gente se sente amada quando as pessoas, no caso, nossos pais, querem estar com a gente.

- Isto é verdade, o meu pai me fez muita falta durante a minha infância e adolescência. – Resmunga Milla. – Na verdade, a família toda, primas e avó.

- Não é abrir mão dela, mas abrir mão da vaidade de só você estar com ela e saber tudo sobre o que acontece na vida dela. Sua filha é outra pessoa, Bella. E me espanta você estar se comportando assim.

- Acho que a pandemia tem a ver também, ficaram tanto tempo juntas... -  Diz Isadora.

- Sempre foi só nós duas. – Suspira Bella. – Confesso que a animação dela em passar o ano com a família do pai me incomodou bastante.

- Acho que incomodou muito né, amiga. Mal estava falando com a gente, só pra dar patada.

- Desculpem, esta é uma situação nova.

- Se acostume porque terão várias, a Sophia ta crescendo, é o ciclo da vida. 

- Nossa, o que é aquele tumulto ali! – Milla aponta para a televisão. Todas vão até la´

 

 Noticia: Houve, agora pouco, um desmoronamento na estrada alternativa que leva ao litoral norte, ainda não sabemos se existem vítimas. Mas devido ao fluxo do final de ano, é provável que existam. 

 

As meninas se olham assustadas.

- Eu não acredito que a gente se livrou disso. – Diz Isadora com as mãos na cabeça.

- Gratidão Universo. Diz Flor erguendo as mãos.

- Não dá pra acreditar! – To me tremendo. – Olhem as minhas mãos. – Diz Milla.

Bella continua calada.

- Eu não to acreditando. Parece que fomos livradas da morte. – Sussurra Bella.

- Depois de dois anos de pandemia, morrer soterrada é sacanagem né. – Responde Milla.

- Que bom que vamos passar a virada do ano num posto de gasolina. – Diz Flor. – Me desculpem pela revisão não feita, meninas. Mas eu to feliz agora. – Diz Flor extasiada.

- To feliz, meninas, emocionada. – Confessa Milla.

Todas se abraçam.

- Nada é por acaso. – Flor fala entre os soluços.

- É bom ter vocês! – Grita Isadora.

A chuva começa a cair.

- Vem vamos para o coberto, esta chuva é para limpar o que teve de ruim no ano de 2021. – Afirma Milla.

- E pra desbarrancar os morros também.

- Quieta Flor. – Exige Isadora.

- Vamos só agradecer!

- Olha o que eu trouxe! – Diz Milla com três garrafas de cerveja e uma de água. E começa a entregar para as amigas.

- E pra mim? – Pergunta Flor.

- Você não vai beber por que está dirigindo, e não fez a revisão do carro.

- Mas foi o universo que salvou as nossas vidas, porque paramos aqui.

- Flor, não tenta se livrar da revisão com um desmoronamento. – Diz Bella.

- Agora brinda com a sua água e não reclama. Você é a motorista da vez. – Milla entrega as garrafas para as amigas.

- Falta 10 minutos para a meia noite, cada uma agora faz o seu brinde. Agradecendo o ao que se foi, e recebendo o ano que chega.– Sugere Isadora.

- Eu brindo a todas as pessoas que tiveram mais uma chance de prosseguir nesta jornada, aos sobreviventes da covid. – Isadora ergue a garrafa. - E peço que para o novo ano, que tudo seja controlado, que a vacina enfim consiga colocar fim nesta doença horrível.

- Brindo a nossa oportunidade do aprendizado de hoje. – Milla ergue a garrafa. – E a todas as outras que vivemos. E para o próximo ano, que eu seja a cada dia mais forte, e que consiga ajudar outras pessoas.   

- Eu brindo as melhores amigas que o universo poderia me dar, a minha recuperação e capacidade de fazer arte até diante das desgraças do mundo. Para o próximo ano, que seja um ano melhor para todas as pessoas, e eu continue com vocês, e comigo em pleno estado de criação.

- Eu brindo a saúde da minha família, das minhas amigas, e da minha filha. Gratidão por me amarem de verdade. Amar não é sobre dizer apenas o que eu quero ouvir, é ter coragem para dizer o que precisamos ouvir. – Diz Bella emocionada. – Quero ter a chance de abraçar a minha filha novamente, e aprender a respeitar as suas vontades como ser humano.

- Que lindo, amiga! – Diz Milla.

- Ahhhh e por último quero agradecer a Flor por não ter levado o carro para fazer revisão e ter nos livrado de um deslizamento monstro! – Ela ri. – Só que não! Tinha que ter revisado o carro, sua maluca.

- Até que enfim um bom reconhecimento! – Flor levanta sua garrafa de água comemorando – Te amo amiga, amo todas vocês.

- Olhem, meninas! – Grita Isadora. – Já 00:00 h, vejam os fogos, já é 2022!

 

Todas gritam num coro.

 

- FELIZ ANO NOVOOOOOOO!



Texto: Grazy Nazario

domingo, 31 de janeiro de 2021

O Rei da Casa - Crônicas

 

Milla abre a porta empolgada.

- Chegou na hora do brinde! – Ela sorri. – Eu sei que não podemos nos abraçar, mas como é bom te ver.

- Oi meninas! – Responde Isadora com certo desanimo. – Gente, podem abaixar um pouco o som? – Ela senta no sofá.  

Bella, Flor e Milla arregalam os olhos:

- Nossa, que ânimo em plena sexta-feira. – Comenta Flor.

- Eu sei... – Isadora suspira. – Tive um plantão daqueles. Esta covid19 quando não mata de um jeito, ferra de outro.

- Imagino, amiga. Olha estávamos todas de máscara, só tiramos agora para o brinde. Não dá pra beber de máscara. – Disse Milla enquanto riu. 

- Passei em casa pra tomar banho, não queria vir direto do hospital, mesmo já infectada e curada preciso evitar transmitir os vírus de outra forma.

- Foi bacana da sua parte vir, mesmo que um pouquinho. – Diz Bella. – Agora que as coisas estão mais ou menos voltando ao normal... - Fase laranja, quase amarela. - Ela ri sem jeito. - Era importante ter este momento, não comemoramos o aniversário de ninguém.

- Eu também estava com saudades. – Diz Isadora. – Mas passei em casa e me aborreci. É muito louco precisar brigar por certas coisas.

- O que aconteceu? -  Pergunta Milla. – Segura este copo, relaxa e nos conte tudo!

- É o meu filho.

- O que tem ele? – Pergunta Bella.

- Ele não quer colaborar com nada. Antes eu já fazia tudo, mas agora a minha sobrinha esta passando uns dias em casa, e pedi pra ela fazer algumas coisas.

- E o que tem isso? – Rebateu Flor. – Estranho precisar pedir isso para o seu filho, só mora vocês dois na mesma casa, pensei que ele fazia o básico.

- Muito chato fazer coisas de casa! – Milla revira os olhos. – Ainda bem que moro com minha mãe.

- Isto não diminui em nada sua responsabilidade, minha filha! – Disse Bella. – Se você faz a sua mãe de empregada ta igual o filho da Isadora, só que pior, porque é adulta!  

- Não acredito que estou ouvindo isso! – Flor bateu o copo na mesa e foi até a cozinha. Voltou com uma latinha de cerveja na mão.  – Pelo amor de Deus, em pleno século XXI você ta sofrendo porque seu filho não quer ajudar, ou melhor, fazer a parte dele nos afazeres domésticos. É sério isso?

Isadora fica sem graça, e olha para as amigas.

- Você nunca ensinou isso a ele? Prefiro não falar sobre a Milla, porque se fizer isso serei obrigada a brigar com ela!

- Calma, gente! – Milla riu. – Eu pago uma diarista super bacana, e ajudo também em casa. Só disse que era chato.

- Disso todo mundo sabe Milla. – Responde Bella. – Mas a gente sabe como você não é fã de fazer muitas coisas.

- E quem é? – Responde Milla irritada.

- Eu! – Diz Isadora prontamente. – Eu sempre fiz tudo sozinha. Nunca pedi nada pro meu filho, dava pra eu fazer eu fazia. E ele é homem, vocês sabem que eles não têm muito jeito pra fazer coisas de casa.

- Pelo amor, que papo mais anos 50! AFFFFFF – Disse Flor e revirou os olhos. – Meus ouvidos estão sangrando!

- Não exagera com a Militância Flor! – Isadora virou um copo cheio de cerveja. – To ficando mais brava com vocês do que com meu filho.

- A questão é que é mais fácil fazer do que ensinar. Ok.  Mas e se o seu filho fosse uma menina, você ensinaria ou não? – Pergunta Bella.

- Mas ai não tem comparação né, gente! – Insiste Milla. – A mãe da gente já manda a gente fazer tudo desde pequena. Acho que por isso odeio. – Milla gargalha.  

- Como que não tem comparação! – Flor se exalta. – Você aprendeu desde pequena, seria a mesma coisa caso fosse um menino.

- Isso é o que a gente queria! – diz Milla.

- Sim, por isso mesmo temos que fazer. Eu não tenho filhos, mas isto está claro pra mim. Precisamos passar valores diferentes do que tivemos para meninos e meninas, ou nada vai mudar.  

- Você odiar fazer estes serviços é só mais um exemplo de que isso não tem nada a ver com gênero. – Insiste Bella.

- Mas é que eu sempre trabalhei e estudei... – Resmunga Milla.

- Milla, se for assim ninguém tem tempo de fazer nada, mas alguém precisa fazer! – Insiste Flor.

- Ah gente, mas agora ele já ta moço. – Resmunga Isadora. – O problema foi esta pandemia, eu levava muito bem as coisas porque era só nós dois. Agora parou a escola e todas as coisas possíveis, e eu to trabalhando feito uma louca no hospital...

- Não é possível, você quer viver como se o seu filho fosse o rei da casa! – Flor se irrita. – Eu não agüento manter um bom humor com uma fala dessas.

- Calma flor! – Pede Bela. – Falar assim não adianta nada, só deixa ela mais nervosa.

- Nossa gente, pra que eu fui comentar do meu cansaço. – Isadora respira fundo. – Só queria relaxar e aproveitar que amanhã é minha folga.

Isadora levanta a vai ao banheiro.

- Caramba meninas, vocês pegaram pesado hoje hein! -  Reclama Milla e vai atrás da amiga no banheiro.

Bella e Flor se olham.

- Nossa, ainda não me acalmei. Eu não me conformo que a pessoa queira ser empregada, por isso tem uma par de boizinho se achando pra cima da mulherada. – Suspira Flor. – Querendo tratar mulher como empregada!

- Eu sei Flor. Mas ela não enxerga assim, fica calma, não precisa brigar também, né. – Diz Bella.

- Dá vontade é de tacar foco nesta macharada folgada!

- Mas ele tem 17 anos!

- Sim, e logo terá 20, e 21, 24, 32.... E vai neste ritmo, “alguém faz por mim”.

- Calma, pode ter salvação.

Flor suspira.

- Eu acho que estou estressada mesmo! – Ela ri. – Muito tempo de quarentena e descobrimos que nossa amiga está se fazendo de escrava e nem enxerga, é problema viu.

Milla e Isadora voltam.

- Meninas, eu vou embora. – Diz Isadora com a voz ligeiramente mais calma.

- Não precisa ir Isadora. - Diz Bella. – Pegamos pesado. Vamos ficar de boa, não é Flor? – Bella olha de canto de olho para a amiga.

- Sim. – Responde Flor a contragosto. – Desculpa, senta ai e fica de boa.

Isadora senta novamente.

Flor bebe uns goles de cerveja, observando a amiga.

- Permita-me dizer mais uma coisa? – Flor sorri. – Mesmo se você não permitir eu vou dizer. - Ela afirma em tom descontraído. 

- E a novidade, Flor? – Diz Milla.

- É que assim.... Precisamos mudar está visão de que as mulheres precisam fazer tudo sozinhas. Por que temos que carregar o mundo nas costas? Reclamamos na internet sobre as atitudes dos homens, e não exigimos que nossos filhos arrumem a cama?

- Você nem tem filho, Flor! – Ironiza Milla.

- Eu sei Milla. Mas você entende o que eu estou falando? – Flor passa as mãos nos cabelos. – O mundo vive uma pandemia louca, muitas pessoas morreram e continuam a morrer. A nossa amiga trabalha na linha de frente contra a doença, chega cansada, e não tem o apoio da própria família. O que ela estaria passando como valores ao filho?

- Isso é verdade. – Diz Bella. – E se algo acontece com ela?

- Sim, eu fiquei doente. E alguém foi pra minha casa, o meu filho ficou perdido.

- Ele não é mais uma criança, se algo acontecer com você, ele precisa ter noção do que é preciso fazer, em outros sentidos também. – Completa Flor com a voz mansa. – Você pode fazer tudo, se assim escolher. – Quem sou eu pra dizer o que você deve fazer?

- Uma feminista do caraio! – Riu Milla. – Mas isso é verdade.

- Eu sei, mas não é fácil mudar hábitos. - Lamenta Isadora. 

- Isso não é mesmo Isadora. Mas não é impossível. – Bella abre um sorriso. – E não é só por você, mas por ele também.

- Isso é verdade. E também o que você vai deixar para o mundo. – Mães super protetoras são péssimas.

Isadora torce o nariz e a boca.

- Mas você não se contenta neh Flor!

- Jamais! – Ela sorri. – Pra mudar precisa fazer diferente. Eu nunca imaginei que veria aquele menino tão lindo sendo acostumado assim, nessa vida mansa.

- É a idade também. – Ameniza Bella. – Os hormônios e tals.

Milla riu.

- Na minha época os hormônios faziam outra coisa.

Todas riram.

- Posso perguntar mais uma coisa?

- Ai meu deussssss – Grita Isadora simulando desespero. – Eu já entendi sobre os direitos iguais e tudo mais, você tem toda razão, Flor! Agora deixa eu tomar essa cervejinha e ouvir este som gostoso porque eu quero relaxar.

- Ah sim. – Flor riu. – Relaxa sim, e depois vamos sortear quem vai lavar a minha louça lá em casa!

Todas olharam Flor.

- Ta doida!?

- Não! Kkkkkkkk – É que como eu conseguir fazer você dividir o seu serviço de casa, todas vocês podem dividir comigo!

 


Imagem: Site "Pra ficar Charmosa. 


FIM

quarta-feira, 13 de janeiro de 2021

Personagem - Milla

 Milla é uma jovem mulher. Esta poderosa não costuma se preocupar com comportamentos, e julgamentos alheios, mas a sua instabilidade emocional sempre dá o que falar. Milla tem 29 anos, é responsável pelo RH de uma empresa de app, e não tem o costume de se preocupar com situações ditas "causas feministas", ela quer curtir, dar muitas risadas, e namorar e casar, é claro.  

No auge da sua sexualidade Milla ainda não percebeu que certas situações fazem dela uma grande feminista, e embora muitos comportamentos sejam contestados pelas amigas, ela é o retrato do dia a dia de mulheres que ainda não perceberam a força que possuem, é guerreira e cheia de atitude. A sua sensibilidade canceriana exala em seu cotidiano, quase sempre se coloca em enrascadas, mas não fica devendo nada para o seu ascendente escorpião, é muito atenta. Costuma ser difícil trocar de opinião quando acredita fazer o certo, mesmo sendo protagonista de muitas confusões é muito amiga, e a mais disponível do grupo, costuma estender a mão, o ombro e todo o resto para consolar aqueles que ama.    



Ficha técnica

Nome: Milla Fonseca de Andrade.

Idade: 29 anos.

Profissão: Assistente de RH

Signo: Câncer, ascendente em escorpião. 

Estado civil: Solteira, mas procurando um par.

Formação: Administração

 

Personagem - Bella

 Bella é uma jovem mulher madura. Feminista por opção esta mulher de poder é puro equilíbrio e sensatez. Em busca de uma sexualidade equilibrada com suas preferências independente do gênero sente-se livre para buscar além do que o mundo lhe apresenta. Bella é comunicativa e trabalha com vendas de cosméticos, atualmente estuda marketing e tem uma filha, Sophia de 11 anos. 

Esta mulher de poder de 36 anos é capricorniana, e sabe que sempre há tempo de fazer o que gosta e ganhar dinheiro com isso, apesar de sua sobriedade já mudou algumas vezes de cursos técnicos transitando desde radiologia, administração e economia, fazendo jus ao seu ascendente em gêmeos. Bella entende que sua palavra tem poder, assim como suas atitudes, sabe que pode ajudar outras pessoas e reconhece que amadureceu muito por prestar atenção em pessoas que tem o que dizer. Embora saiba sobre suas habilidades e facilidade de aprender, é humilde e gosta de ser todo ouvidos para as amigas. Além disso, sabe que nenhum empoderamento é fixo, e que precisa ser lembrada sempre quanto a sua importância para si e para o mundo.                                                                    


Ficha técnica    

        

Nome: Isabella Morais de Souza     

Idade: 36 anos.

Profissão: Vendedora

Signo: Capricórnio.

Filhos: 1 filha 

Estado civil: Solteira.

Formação:  Estudante de Marketing.

Personagem - Isadora

 Esta é a Isadora.

Esta é uma mulher de Poder geniosa. Mulher de opinião e firme em seus posicionamentos, Isadora adora conversar e curtir com as amigas. É trabalhadora e preocupada com causas que considera importante, sua profissão é enfermeira, adora se vestir bem e chamar atenção e namorar. Tem 38 anos, já foi casada, e tem um filho adolescente. 

Embora independente, e de sentir-se livre e forte não se sente familiarizada com o termo "feminista" tão utilizado pelas amigas Flor e Bella. Como uma autêntica leonina não precisa buscar os holofotes, pois  geralmente são eles que a procuram. Costuma falar com a voz alta, gestos expressivos e palavras que caracterizam as certezas que carrega, mesmo com o seu signo ascendente favorecendo a teimosia, quando percebe o seu erro costuma reconhecer, mesmo que isto demore mais que o esperado.  Isadora não sabe, mas tem muitas atitudes feministas, e aos poucos vai entendo o que de fato isto representa na sua vida e no seu dia a dia.


Ficha técnica


Nome: Isadora Brandão Silva.       

Idade: 38 anos.

Profissão: Enfermeira

Signo: Leão, com ascendente em Touro.

Filhos: 1 filho adolescente (Matheus)

Estado civil: Divorciada

Formação: Enfermeira. Estudante de pós graduação. 


Personagens - Flor

 Esta é a Flor. 

Esta mulher de poder tem muita criatividade, pensamento livre e versátil, e muito senso de humor. Flor está com 34 anos, sua profissão é artista, participa de muitos trabalhos e costuma estar disposta a novos desafios em muitas áreas da sua vida. É solteira, não tem filhos, e diz não fazer questão de ser mãe. No entanto, como boa pisciana muda de ideia com facilidade, por vezes é distraída e adora romances. 

Flor é a feminista assumida da turma, porém sabe que tem muito a aprender, pois entende que ninguém é obrigado a saber novos caminhos de comportamento, uma vez que somos inseridos e construídos a partir de uma cultura que considera diferenças e desvantagens entre homens e mulheres.  


FLOR - Mulher de Poder


Nome: Floripes Galvão.                                       

Idade: 34 anos.

Profissão: Artista.

Signo: Peixes, ascendente: Aquário.

Filhos: Não.

Estado civil: Solteira.

Formação: Teatro. 




segunda-feira, 11 de janeiro de 2021

Encontro online - Crônicas Mulheres de Poder

 


                                                          

Iniciando a reunião...

 

Milla entrou na sala...

Isadora entrou na sala...

 

- Como é bom ver vocês. – Diz Milla emocionada.

- Linda! – Isadora grita e bate palmas. – Mesmo distante está muito bem.

Flor entrou na sala...

 

- Oi meninasssss. Dificil fazer está reunião, mas deu certo. – Diz Flor.

- Que cabelo é este Flor? – Milla começa a rir. – Você não penteou nem o cabelo!

- Não tive tempo Milla, não enche. – Flor balança a cabeça.

“Bella entra na sala”

 

- Saudades de todas vocês! – Diz Bella. – E ai o que vocês têm feito?

- Nada! – Gargalha Milla. – Eu to com ranço, e de férias do trabalho.

- Vixe, pois eu estou trabalhando muito. – Responde Isadora. – Doença infeliz. Tem dias que parece que vou deprimir.

- Caramba. – Diz Bella. – Deve ser muito ruim estar no seu lugar.

- Nem queira saber. – Responde Isadora. – Mas vamos falar de coisas boas, todas estamos bem.

- Sim! – Diz Milla. – Você já está recuperada mesmo?

- Sim, agora estou. – Isadora une as mãos e olha para cima. – Graças...

- Ficamos muito preocupadas com você. – Diz Flor- Mesmo falando sempre pelo whats, não é a mesma coisa que ver a pessoa.

- Não está sendo fácil pra ninguém. – Afirma Bella.

- E você parou de sair Milla? – Pergunta Bella

Milla começa a tossir.

- Eu não acredito que você está saindo? – Diz Isadora.

- Mas eu não estou saindo. – Insiste Milla.

- Mas outro dia liguei pra você e sua mãe disse que você tinha ido no Flavinho.

- Ahhhhh. Mas ir no Flavinho não é sair, eu só fui lá pra transar, já estava meio louca, tanto tempo em casa e nada de sexo.

- Como assim Milla, o Flavinho está ficando em casa? – Pergunta Bella.

- Não sei, ele disse que sim, e está trabalhando em home office.

- Como assim não sabe? – Diz Isadora gargalhando. – Ainda bem que não estamos ao vivo. Eu tenho vontade de te expor e cancelar você na internet. 

- Milla você nunca ouviu falar de masturbação? – Diz Flor fazendo gesto com a mão enquanto coloca um vibrador na frente do seu computador.

As amigas começam a gritar, rir e bater palmas.

- Que delícia! – Grita Bella gargalhando.

- Isso ta limpo, Flor?

- Não, eu acabei de usar! – Flor se diverte. -  Kkkkkkk

- Isso explica o cabelo bagunçado. – Brinca Isadora.

- Mas isso não é a mesma coisa, gente! – Ri Milla enquanto bate palmas. – Com outra pessoa tem carinho.

- Ai meu deus! Lá vem ela com o “afeto”. – Flor sacode o vibrador na frente da câmera novamente. – Você ta muito romântica, Milla.

- Romântica eu sempre fui. Nesta pandemia eu to é carente! – Resmunga Milla.

- Exagerada! – Diz – Isadora.

- Exagerada sim, Milla. Não precisa furar a quarentena pra transar com seu ficante.

- Gente, a coisa tava feia!

- Milla, você pode fazer igual eu, sexo virtual! – Afirma Flor com ar de satisfação.

- Mais essa agora! – Milla ri. – Você é doida!

- Você não tem o que fazer na pandemia e inventa né, Flor. – Diz Bella.

- Meninas, eu tô trabalhando super pouco nesta pandemia, os artistas são os que sofrem primeiro quando as coisas param assim do nada! – Flor revira os olhos. – Eu preciso fazer coisas novas ou fico deprimida! E sexo virtual é antigo, vocês que estão atrasadas! – Flor gargalha.

- Conta isso Flor, como assim sexo virtual? – Pergunta Isadora interessada.

- Sério que vou ter que ensinar isso pra vocês. – Flor mostra o vibrador “verde limão”. – Então... Eu conhecia ele, daí a gente ficou conversando por telefone e deu tesão...

- Flor, não é isso que a gente quer saber! – Diz Bella rindo.

- E o que é?

- Você fez uma vídeo chamada e ficou gemendo com o cara, beleza. – Bella coloca a camiseta na cabeça. – Você ficou nua pra este cara? Tipo nudes!

- Lógico! – Ela ri. – Nem me lembra, muito bom!

- Você é doida, só pode! – Diz Isadora. – Flor, e se este cara te filma e vende as suas imagens para algum site pornográfico? Ele é de confiança?

Flor fica pensativa.

- Olha eu não sei se posso dizer se ele é ou não confiável, mas se ele fizer isso é um idiota e mau caráter, e não vou mais transar com ele. Mas se ele for esperto faremos mais vezes, e depois da pandemia pessoalmente, é claro!

- Flor você é sem noção! – Afirma Milla indignada. – Se este cara vende as suas imagens, imagina a vergonha.

- Vergonha pra ele né, Milla! Isto seria crime digital. E outra coisa, eu tiro a roupa toda hora no teatro, não tenho problema com nudez.

- Mas é muita intimidade pra expor assim! – Diz Milla preocupada. – Eu tenho medo.

- Medo deve ter ele de cometer um crime! A gente precisa parar de culpar a vítima em casos assim. Ninguém pode controlar o que outra pessoa vai fazer, mas se eu exponho ele, eu estaria errada.

- Mas em casos assim nada acontece com os homens, e eles ainda ficam com fama de predador. – Afirma Isadora.

- Mas isto acontece porque ainda tem falas como estas, gente. – Diz Bella convicta – A Flor tem razão. Se ela sentiu prazer, gostou de “estar” com o cara e ambos estavam em comum acordo, não tem porque ficar preocupada com nada disso. E se ele usar as imagens dela pra cometer um crime deve ser o culpado pelo crime, e não ela!

- Graças aos céus alguém me entende. – Flor levanta as mãos. – É isso, meninas! O que é feito em comum acordo não deve ser condenado, mas quando alguém quebra este acordo deve ser denunciado e pronto.

- Mesmo assim é bom ter cuidado, Flor. – Diz Isadora. – Este povo é doido.

- Eu sei. Mas foi sexo seguro! – Flor ri. – Seguro em muitos sentidos desde DST, gravidez e covid 19!

- Você é uma palhaça mesmo!

- Saudades de vocês, meninas! – Diz Isadora. – Você está certa Flor, é melhor fazer isto, que se arriscar em pegar covid.

- Pronto! Já vi que fui condenada. – Responde Milla emburrada. – Mas nem adianta, isso de sexo virtual não dá certo pra mim.

- Ninguém vai te condenar não, maluca! – Todas riem. – Mas não vai poder ir no nosso encontro pessoalmente. – Diz Bella.  

- Desgraçado! – Grita Milla com o celular na mão. – Não vou mesmo!

- Por que? – Pergunta Isadora.

- Acabei de ver os stories do Flavinho, ele está numa festa! Imbecil.

- Isolamento nos próximos quinze dias! – Diz Isadora rindo. – E peça dicas para a Flor, você vai precisar!

-Simmmmm!

FIM DA CHAMADA



Imagem: Internet. 


Texto: Grazy Nazario. 

 





terça-feira, 22 de outubro de 2019

Crônicas do dia a dia - O primeiro NÃO a gente nunca esquece


Sentadas de frente para a piscina, Flor e Isadora mexem no celular, quando ouvem a voz de Milla.

- Podem parar com esta palhaçada de ficar no celular. – Eu quero uma cerveja, to morrendo de sede.
- Senta ai maluca! – Diz Flor enquanto enche seu copo.
- Por que tanta agitação? Hoje ainda é sábado! – Resmunga Flor.
- Vamos falar dos detalhes da viagem – Diz Isadora apressada.
- Calma, primeiro eu quero falar do Evandro. – responde Milla.
- Quem á este? – Isadora fez cara de espanto.
- A Flor conhece.
- Conheço? – Flor fez cara de ueh.
- Lógico! – Responde Milla irritada. – É aquele cara que conhecemos juntas no aniversario da Ju...
Flor continua calada, e pensativa.
- Vocês ficaram conversando horas sobre a caça aos animais...
- Lógico que me lembro! – Flor dá uma risada. – Ele era amigo deste, ou primos, não sei bem.
- Então... Acho que ele é gay! – Diz Milla. – Acho não, tenho certeza. – Ela torce o nariz.
- E por que você tem tanta certeza disso, Milla? Ele falou alguma coisa? - Pergunta Isadora.
- Tem certas coisas que não precisa dizer, né gente, é só prestar atenção nas atitudes.
- Ele saiu com você e negou fogo? – Flor colocou a mão na boca com os olhos arregalados.
- Não. – Diz Milla. Pior que isso!
- O que pode ser pior que isso neste caso? – Isadora põe a mão no queixo pensativa. – Diz logo que to curiosa!
- Eu chamei ele três vezes pra sair e ele me esnobou, não quis nem me conhecer, tomar alguma coisa... Nada!
- E o que isso tem a ver? – Isadora levanta as sobrancelhas.
- Como assim amiga, ele só pode ser gay!
Flor balançou a cabeça.
- Essa foi a coisa mais machista que você já disse!
- Machista mesmo, com certeza, Milla. - Repetiu Isadora.
- Então me diz por que ele não quis sair comigo? – Ela bufa. – Por um acaso eu sou feia, desinteressante, sem graça? Por que um homem heterossexual não sairia com uma mulher como eu?
- Pelo mesmo motivo que não saímos com qualquer homem! – Flor responde imediatamente.
- Você ta falando serio, Mila? – Isadora gargalhou. – Você não sabe ouvir um NÃO de um cara. Ta andando muito com homens, não é possível!
- Não é isso. – Mila começa a falar devagar. – É que não da pra entender por que o cara se recusou a sair comigo. – Ela mexe nos cabelos. – Mesmo que fosse só pra gente conversar e se conhecer. Se ele é solteiro e eu também, na minha visão ele é gay e não quis ser indelicado.
- Me lembrei de um filme agora. – Isadora começa a rir. – É com aquele ator Mel Gibson, ele fica ouvindo os pensamentos das mulheres e certa altura do filme diz pra uma mulher que ele é gay, só pra não magoar ela.
Flor começa a rir.
- Eu me lembro deste filme. É muito bom!
- Para, gente! – Interrompe Milla com a cara fechada. – Que mané filme, vamos para o meu assunto. Foco!
- Se for pra falar em foco, temos que falar da viagem que ninguém lembrou que existe! - Resmunga Isadora.
- Daqui a pouco Isadora, calma. – Milla levanta as mãos. – Isso é coisa séria.
Diz Flor, você acha que ele é gay, ele dá pinta?
- Gata, eu não vi ele dando pinta, não. – Flor bebeu cerveja. – Amiga, seria legal a gente entender que os caras também podem dizer não, do mesmo jeito que nós dizemos.
- Acho que estão tudo mole! - Bufa Milla.
- Você não sabe o que quer! – Grita Isadora. – Se os homens vão pra cima são atirados demais, se não vão são gays. Isto é pensamento do século passado, Milla, as coisas mudaram.
- Mudaram pra pior.
- Milla, pensa comigo. Antigamente, nessa mentalidade sua ai, só os homens chegavam nas mulheres, a gente não tinha esta liberdade de tomar a iniciativa.
- E o que isso tem a ver. – Milla retruca irritada.
- Tem a ver que a gente falava Não pra vários caras que a gente não queria ficar. E os homens atiravam pra todos os lados, por que as mulheres viam as relações de forma diferente.
- Não to entendendo nada! – Milla responde decepcionada.
- O fato é que o cara pode não ter ido com a sua cara. – Isadora jogou as mãos pro lado. – Tipo o santo não bateu mesmo.
- E por que ele me responde as mensagens?
- Por que não quer ser indelicado? – Diz Flor.
- É... – Milla lamenta. – Pode ser...
- Sim. E isso não é o fim do mundo, gata. – Flor mexe nos cabelos da amiga. – Força na peruca! Quem arrisca convidar corre o risco de receber não, ou sim. Este é o preço da liberdade conquistada pelas mulheres.
- A parte chata você quer dizer neh! - Milla revira os olhos.
- São consequências. – Responde Isadora. – Se o cara não topou com a sua cara, pra que sair com você? Vai fazer você perder o seu tempo e ele o dele, assim pelo menos age na honestidade.
- A honestidade as vezes atrapalha. – Milla exclama. – A gente perde chance de conhecer as pessoas.
- Não perde nada! Quando você não quer nem adianta insistir. – Flor a olhou nos olhos. – O homens também tem o direito de dizer não, e temos que aprender a conviver com isso e seguir nossas vidas.
- Então bora seguir a vida, e chega desse assunto. – Diz Isadora.
O celular da Flor toca.
- Vixe, é o amigo do seu suposto gay. 
Todas se olham, Flor levanta para atender. Minutos depois senta-se na cadeira com os olhos arregalados.
- Vocês não vão acreditar.
- Diz logo! – Milla soltou um grito. – Ele disse que o seu cara é gay mesmo!
Flor gargalha.
- Acho que eles são um casal.
- Por esta  eu não esperava. – Isadora arregala os olhos.
- Jura! – Grita Milla ao gargalhar. – Eu falei, isso tava muito estranho, eu nunca tinha visto isso.
- Eu to brincando.  – Flor balança a cabeça, e começa a rir. – Ele me chamou pra sair
Milla arregalou os olhos.
- Mentirosa, sem graça!
- Eu disse que ia pensar, por conta da viagem e de não querer me envolver com ninguém agora. Espero que ele entenda e não me chame de lésbica por conta disso.
- Engraçadinha! – Milla revira os olhos. – Vamos falar da nossa viagem.
- Melhor escolha impossível. - Diz Isadora satisfeita.




Texto: Grazy Nazario.





quinta-feira, 21 de março de 2019

Crônicas do dia a dia - A Artista


- Meninas, Vocês estão convidadas pra assistir a minha peça de teatro! – Disse Flor enquanto gritava dava pulinhos de alegria.
- Serio amiga! – Respondeu Milla. – Não sabia que você atuava.
- Será a minha estreia!
- Pensei que você fosse artista plástica. – Disse Isadora.
- Sou artista! - Flor respondeu orgulhosa. -Tenho veia pra fazer de tudo na arte, incluindo interpretar.
- Não vai levar a gente pra uma roubada Flor, pelo amor! – Resmungou Bela. – A ultima vez que você me convidou pra uma exposição fiquei encharcada na instalação artística do seu amigo.
- Vixe! Não exagera também. A piscina viva era tudo de bom! Precisamos apreciar o diferente. – Flor riu empolgada. -  Vocês vão assistir uma peça no teatro, simples assim. 

No dia da apresentação.

As amigas se preparam para sentar na primeira fila do teatro quando veem Flor.

A artista passa por elas calada, e dá um sorriso singelo.
- A Flor está estranha. Você não achou Isadora? – Pergunta Milla.
- Deve ser nervoso pela estreia.  
- Pareceu mais estar com raiva, que ansiosa. – Milla comenta.
- Fiquem quietas, vai começar a peça.
“A noviça rebelde”

Uma musica começa a tocar e inicia o espetáculo. Os personagens entram um a um em cena. As crianças filhos do tal viúvo, em seguida o viúvo, a empregada... Flor não entra em cena.   
- Eu conheço este cara de algum lugar.  – Sussurra Bela.
- A Flor deve ser a noviça rebelde! – Milla cochicha.
- Também acho! – Comemora Isadora.
A atriz interprete da noviça sobe ao palco, e para a surpresa das meninas, não é a Flor.
Pouco tempo depois Flor entra em cena, e interpreta a namorada do viúvo.

A peça esta rolando... 

- Nossa! – Milla faz uma careta com a língua de fora. – A Flor ta com a fala travada, parece uma estátua amarrada! 
Bela e Isadora se olham espantadas.
- O que é isso! – Bela Cochicha. – A Flor ta horrível nessa cena.

Fim da peça.

Os atores entram para os bastidores. Flor sai pelo palco batendo os pés.

- Flor! – Chama Isadora. - Pensei que ficaria com o pessoal depois do final da peça. 
- Não quero! – Merda pra eles, mas merda de verdade, não a do teatro!
- O que foi?
- Este diretor é um folgado!
- Quem é o diretor? - Diz Isadora.
- O que fez o viúvo! - Flor responde irritada. - Tenho certeza de que ele ta transando com a noviça.

Milla gargalha.

- Mas por que você acha isso?
- Por que o papel da noviça era meu! Eu até ensaiei algumas vezes. Ai depois chegou essa magrela e ele deu o papel pra ela.
- Mas o seu papel também é de destaque. - Diz Isadora.  
- Não! O meu papel se ferra! – Flor cruza os braços. – E não é só por isso, eu já estava ensaiando o papel da noviça, isso é muita sacanagem!
- Não exagera amiga, atrizes precisam lidar com isso de mudanças. – Milla a consola.

Chega o ator que interpretou o viúvo.
- Boa noite a todas. 
Todas respondem num coro.
- Gostaram da peça? - Ele pergunta.  
- Claro! – Isadora sorri.
Bela para e fixa o olhar no homem.
- Eu conheço você. – Ela diz como quem tenta se lembrar de onde.
- Sou ator e trabalho em varias peças. – Ele ri- Se você vem com frequência ao teatro com certeza me viu no palco ou na plateia.
- Não é isso não... – Bela fica pensativa.
A atriz que interpretou a noviça rebelde chega.
- Paulo! – Ela se joga no meio do grupo. – Você esta ai! Preciso falar contigo urgente, e em particular. – Ela sorri e puxa ele. – Licença meninas, mas preciso roubar este homem de vocês!
- Hummmmmm. To entendendo sua cisma amiga. – Milla solta uma gargalhada.
- To te falando!
- Não é bem assim gente, Flor, você esta sendo preconceituosa. – Isadora revira os olhos e cruza os braços. – Você vive defendendo as mulheres serem livres e fazer o que quiserem e já fica acusando a mulher de dormir com o cara pra conseguir um papel!
- Mas isso acontece, não dá pra negar! E seria muita sacanagem a gente se matar pra fazer os testes super complexos, e outra pessoa ganhar o papel por conta de teste do sofá! – Flor fica emburrada.
- Nisso eu concordo com a Flor! – Milla bate palmas.
- Mas peraí! – Grita Isadora e põe a mão na cintura. – Vamos combinar que a interpretação da Flor foi horrível!
- O queeeeeeeeeeee!? - Flor fuzila a amiga com os olhos. 
- É verdade Flor, eu nunca fui mentirosa e não é agora que vou ser! Você não serve pra isso, continua com a outra parte artística em ação porque pra ser atriz não vai dar certo.
- Nossa Isadora, que banho de honestidade! – Flor fecha o cenho. – Vou pegar as minhas coisas e já volto. Depois dessa vou pra casa.
- Eita! Parece que ela ficou triste mesmo. – Milla fala preocupada.
-Você pegou pesado, Isadora. – Resmunga Bela.
- Onde você estava Bela? - Berra Isadora. 
- Eu fui ver uma coisa...
- Meninas, a Flor pode até se chatear comigo por eu ter disto isso, mas eu como amiga preciso falar a verdade. Imagina ela ficar tentando testes e mais testes pra ser atriz, seria uma frustração atrás da outra!
- Pode ser... – Milla fica pensativa. – Mas tem coisas que a gente precisa perceber sozinha.
- Nem tudo! As vezes as amigas podem e devem ajudar, principalmente amigas de verdade. Fiz parte, se não adiantar pelo menos eu fico em paz com minha consciência.
Flor chega apática.
- Vamos embora?
- Que desanimo! – Milla sacudiu a amiga. – Não vamos sair pra comemorar esta noite?
- Comemorar o que? Eu ter que pagar a minha participação na peça com três dos meus melhores trabalhos!
- Agora não to entendendo. Você pagou a sua participação no espetáculo? - Isadora coloca as mãos na cabeça.
- Foi mais uma troca de favores artísticos! - Flor ri sem graça.
- Ahhh sua sem noção! – Isadora se sacode toda. – Você só arrasta a gente pra roubada Flor. Disse que tinha passado no teste!
- Eu não disse nada! Só falei que faria uma estreia. Eu não acho justo ter que pagar por isso, se eu nem fiquei com o papel da noviça, acabou sendo aquela bruaca, só por que ela vinha em todos os ensaios...
- E se dedica a profissão, estuda para ser boa atriz e interprete... – Isadora balança a cabeça.
- Já pegou autografo com sua ídola Isadora? Tirou foto, pediu a mina em casamento? Só não se empolga porque ela já é do viúvo!
- Lembrei! – Grita Bela e levanta as mãos. – Ela não é dele não. – Ela ri alto. – Este cara é gay!
- Babado! Serio? – Milla grita. – Nunca eu ia pensar isso.
- Certeza! Ele namorava um cara que eu conheci através de uma amiga. E ele nem é Bi, é gay mesmo.
- Caramba Flor! – Isadora coloca a mão em seu ombro. – Parece que a noviça não se vendeu pra ter o papel, ao contrario de você que prostituiu as suas obras pra este tonto! – Ela ri. – Não é sempre que a gente ganha minha amiga.
- Agora fiquei triste. – Flor olha para as amigas e fica em silencio. – Vocês acham que eu sou ruim mesmo como atriz, não dá nem pra tentar? - Flor olha pra Isadora. - Você não diz nada, já falou muito hoje!
- Não é muito bom não. – Responde Bela sem graça.
- Se fizer muitos cursos pode ser que melhore amiga. – Milla desvia os olhos da amiga. 
- Mas como artista plástica eu não conheço ninguém tão boa. – Isadora afirma.
- Então bora comemorar!
- A carreira da melhor artista plástica? – Milla grita empolgada.
- Não, a minha carreira relâmpago de atriz!



Texto: Grazy Nazario. 







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Não é só no circo que tem palhaço

  Flor chega em casa furiosa. Joga a bolsa no sofá, bebe água e olha o celular. Percebe que tem pelo menos dez mensagens. Ignora todas e b...