quinta-feira, 27 de outubro de 2022

Não é só no circo que tem palhaço

 

Flor chega em casa furiosa. Joga a bolsa no sofá, bebe água e olha o celular. Percebe que tem pelo menos dez mensagens. Ignora todas e busca o grupo de whatssap “Mulheres de poder”

- Meninas, preciso falar com vocês. Agora, É  U R G E N T E!

No grupo ninguém se manifesta. Ela resolve tomar um banho. Em poucos minutos volta para o celular.

- Que droga! Quando eu preciso dessas meninas elas somem... Milla deve estar com algum cara, certeza! – Ela fica pensativa. – Isadora esta trabalhando ou dormindo. – Ah que bom! Flor solta um grito. – Bella visualizou.

- Bella, preciso conversar, é urgente!

- Flor, são duas da manhã. – Responde Bella.

- Amanha é sexta-feira! Posso te ligar?

_ E adianta dizer não?

Bella atende o telefone.

- Oi Flor o que aconteceu? Te conhecendo eu imagino que não é nada como uma doença grave ou um acidente de carro!

- Credo, claro que não! As palavras têm poder, não brinca com isso não.

- Ufa. – Você ama nos assustar.

- Você é exagerada, mas eu te amo. – Flor suspira. – Me fala uma coisa, que cor eu pinto as minhas unhas, amanhã tenho uma reunião importante, quero me sentir incrível!

- Pelo amor de Deus sua louca! Você me liga as 2:30 da manhã pra perguntar se deve pintar as unhas de azul ou vermelho?

- Calma amiga! – Flor se diverte. – Lógico que não é isso Bella,  eu só quis aproveitar a ligação. – Flor gargalha. Mas colocar o vermelho pra brigar com azul é covardia, já ta escolhido. É Rubro.

- Diz o que aconteceu logo Flor, eu estava terminando o episódio da série que adoro, para de enrolar falando da cor da sua unha.

- Ah ta. – Flor muda o ton de voz. – Só de pensar fico nervosa. você se lembra que hoje era eu ia sair com o William ne.

- Sim, claro. Até pensei que ele iria te pedir em namoro, vocês estão se vendo a algum tempo neh.

- Mais ou menos. Não sei se é boa ou ruim esta intimidade, quando eu penso que vou voltar a querer acreditar em amor romântico os caras ferram com tudo.

- Vixe, já vi que esta conversa vai ser longa. você não quer falar disso amanhã Flor?

- Pelo amor de Deus, depois que eu te contar o que aconteceu vai entender o tamanho da minha aflição.

- O que pode ser tão grave Flor? – Bella bufou. – Se a história não for boa vou bloquear o seu contato por uma semana, de castigo, por atrapalhar a minha série.

- Para de fazer piada Bella, esta série esta gravada, e ta cheio de spoiler na internet. – Flor ajeitou o telefone para que a amiga visse bem os seus movimentos enquanto ela pintava as unhas.

- Conte, você parece nervosa mesmo.

- Eu to uma pilha! Primeiro ele me disse que íamos sair as 7 da noite. Me arrumei e tals, você sabe que eu amo me cuidar, eu ia sair pra arrasar neh.

- Sei, sei, imagino que estava bem vestida.

- Eu não ligo de sair de tênis e moletom, desde que a gente vá para uma caminhada ou coisa do tipo. Uma roupa pra cada ocasião, não é mesmo?

- Logico! Mas e ai, vocês saíram muito tarde?

- Não. Ele me avisou e veio as 8. Disse que iriamos jantar. – Flor bufou. – Pensei: Pelo menos vou comer, to morrendo de fome. Já que não vou a nenhum lugar diferente.

- Certo, não estou entendendo o drama, mas prossiga.

- Vou te falar Bella. Não é só no circo que tem palhaço!

- Agora que não entendi nada! – O que ele te fez pra você ofender os palhaços dessa maneira. – Ela gargalhou.

- Eu adoro palhaços, é uma manifestação artística linda, mas prefiro que estejam no circo, naquelas apresentações glamorosas e felizes. – Mas o Willian foi muito sem noção. Realmente estou ofendendo os palhaços, mas você vai entender.

- Espero que sim.

- Quando ele chegou e eu entrei no carro vi que ele estava tipo... largado. Parecia que nem banho tinha tomado. Pensei logo que ele me chamaria pra ir pra casa dele, e a minha maquiagem e meu visual de cabelos arrumados bota cano alto e baton novo seriam desperdiçados com o travesseiro.

- Você é terrível, Flor! – Bella ri. – Ele estava tipo maltrapilho?

- Amei esta palavra, se parece muito com o que ele estava. – Flor gargalha.

- E dai o que aconteceu. Você disse o que?

- Perguntei se ele ia passar em casa pra se trocar e tomar banho. E ele me olhou espantado, como se eu tivesse xingado a mãe dele.

- Ele é estranho este cara.

- Muito! – Flor arregalou os olhos confirmando o que havia acabado de dizer. – Então fomos. E ele passou direto da casa dele, e falou vamos naquele lugar que vende esfirras, comemos e voltamos pra casa.

- Serio? – Bella ri. – Sem imaginação ele.

- Tudo bem ir naquele lugar.

- Não está tudo bem! Ele está querendo te surpreender, te encantar? E toda vez que vocês saem vai pro mesmo lugar e nem se arruma. Calma ai amiga, pra fazer isso melhor chamar a galera e curtir um som que você curte.

- Não me deixa depre, Bella. – Preciso que me ouça, porque o pior esta por vir?

- E tem pior?

- Sim. – Flor engole seco. – O que agüentamos pensando numa noite de prazer é brincadeira.

- Espero que pelo menos isso faça valer. – Bella resmunga

- Para de me interromper, Bella. A coisa é séria.

- To vendo.

- Quando entramos no restaurante, ele estava vestindo uma calça de moletom de barra larga, tipo aquelas calças de palhaço, uma camiseta velha preta, tipo sem cor, e a cara estava “acordei agora”. Entramos e todas as pessoas se viraram pra nós, parecia que tinham ensaiado. E ele soltou: “Nossa, você ta parecendo uma princesa, e eu um andarilho.”  Eu fiquei vermelha, sem graça. Me senti mal por ter me vestido daquele jeito.

- Mas é o seu jeito, Flor. Você não precisa se envergonhar disso. Ele que foi sem graça.

- Mas e se este for o jeito dele? Eu preciso respeitar.

- Flor, você não precisa nada! Isso não quer dizer que você é preconceituosa, além disso vocês já saíram antes e ele não se vestiu assim. Pra mim pareceu desleixo, tipo: Eu não me importo de me arrumar pra te ver.

- Nossa, será? Que maldade.

- Acredito nesta teoria. E você pensa o que?

- Não sei. Talvez ele não tenha tido tempo, estava cansado... Eu não sei o que pensei. Mas não gostei de entrar no restaurante e estar com um palhaço, sem estar no circo, e pior, sem ele me fazer rir.

- Flor, isto é muito sério. – você saiu de casa, se arrumou, organizou o seu TEMPO, você poderia estar fazendo N coisas neste momento, e se arrumou pra fazer companhia para uma pessoa que não pensou em tomar banho pra te ver?

- Nossa, que pesado! Eu só estava brava porque além de tudo ele não reparou na minha roupa, ou no meu cabelo... Nada! Só quando ficou com vergonha que me elogiou, e ainda tipo fazendo “graça” do contraste.

- Gata, cai fora que é cilada!

- Eu não tinha percebido assim. – Flor fica pensativa.

- Mas imagina se isso evolui pra um namoro e você decide dedicar mais tempo pra um cara que ao invés de encantar faz este tipo de coisa.

- Mas se eu for tão intolerante vou ficar sozinha.

- Nossa, eu não estou ouvindo isso de você! Prefiro que você pergunte a cor do esmalte que deve usar. – Bela gargalha. – Ouça o que você está dizendo. Minha amiga, a sua vida de solteira é maravilhosa, você dança, viaja, paga as suas contas, pelo amor de Deus. O que este cara fez, seqüestrou a minha amiga?

- Pegadinha da malandra! – Flor começa a rir. - Era só pra ver se você estava esperta mesmo.

- Ufa! – Bella põe a mão no peito. Eu já estava preocupada. – Pensei que tivesse voltado pra casa com ele.

- Em outros tempos eu voltaria, mas a gente vive as situações pra aprender com elas, não é mesmo?

- Sim, claro. E o que aconteceu com ele? O que você fez

- Ah amiga... Depois que ele disse que não tinha percebido que a minha maquiagem era diferente da que eu usei da última vez achei que era desaforo demais.

- Como assim?

- Uma maquiagem cara, fiquei com a pele linda e saudável, e nem parecia que estava usando maquiagem, como uma pessoa tem a coragem de dizer que está normal? Deixei ele por lá, e voltei de uber.

- você é doida! – Bella ri empolgada. – Te amo garota!

- Que bom amiga! Eu também.

- Agora me responda.... – Ela coloca as mãos na frente da tela. – Minhas unhas vermelhas ficaram ou não lindas?

Bela gargalha.

- Sua louca!

- É a cor do amor! Eu não desisto, mas menos do que eu mereço estou dispensando.




Texto: Grazy Nazario

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