As quatro amigas estão num quarto conversando.
- Uma loucura mulheres da nossa idade com estas crianças. –
Resmunga Milla.
- Tá me chamando de velha, Milla? – Responde Isadora
espantada.
Milla gargalhou.
- Lógico que não amiga! Mas é estranho, fico um pouco
deslocada.
- Pois eu adoro. – Diz Flor satisfeita. – A juventude é
incrível.
- Eu não tenho outra escolha, preciso ir soltando o Matheus
aos poucos. – Responde Isadora com certa aflição.
Flor encara a amiga de braços cruzados.
- Quem vê você falando pensa que o Matheus tem 5 anos.
- Eu estou aprendendo a ficar de boa, Flor. Será que você
pode respeitar o meu tempo?
Milla levanta:
- Tomara que não dure até os 36 anos do Matheus.
- Exagerada! – Reponde Isadora. – Meninas, o Matheus acabou de fazer 18 anos, não é de uma hora pra outra que a gente deixa o menino sair sozinho pra uma festa na piscina com os amigos.
As três amigas ficaram em silêncio encarando Isadora.
Neste momento ouve-se um barulho estrondoso, como se algo
tivesse caído. Isadora fica pálida.
- Gente, o que foi isso?
-Vamos ver! – Diz Bella, e sai correndo puxando o “bonde das
mulheres de poder”.
Assim que chegaram na piscina viram uma “briga”
generalizada, tendo como trilha sonora um funk.
Duas meninas discutem. Matheus levantava a caixa de som no alto.
- Tia Isadora! – Grita a amiga de Matheus. – Ela para de
discutir com uma moça e vem em sua direção.
- Tia!? – Resmungou Milla. – Se esta garota me chamar de
tia, eu voo na cara dela.
- Cala a Boca, Milla. A coisa é séria. – Responde Flor.
- Mas me chamar de tia, também! - Milla Retruca.
Flor a fuzila com os olhos.
- Ta bom, ta bom....
- O que está acontecendo Marcela? – Pergunta Isadora quando
percebe que todos estão assustados.
- O Matheus tentou me impedir, mas eu não aceito!
- Abaixa este som, pelo amor de Deus. Vamos enlouquecer. –
Grita Isadora.
Bella abaixa o som, olha todos os “grupinhos”, e faz um
movimento de calma entre os amigos e amigas. Os ânimos parecem se acalmar.
A moça que discutia com Marcela está em silencio.
- Você pode falar o que está acontecendo, Marcela?
- Tia, este menino. Ela apontou pra um rapaz que estava de
frente pra ela. – Então, ele é namorado desta menina, a Luiza. Ela estava
brincando com a gente na piscina.
- Quem estava brincando? – Pergunta Milla.
- Todas as meninas, era um jogo de meninas! – Diz Marcela
satisfeita.
- Tá e ai. – Responde Isadora.
- Daí este cara. – Ela apontou pro rapaz. – O Luiz Fernando,
ele é namorado da Luiza.
- Continua.
- Ele tirou a menina da piscina feito um louco, segurando o
braço dela com violência, só porque a gente estava se divertindo. Ele é muito machista!
- Espera ai, não foi assim também! – Disse Luiz se
intrometendo.
- Calma ai rapaz! – Isadora levantou a mão na cara dele.
- Você sabe de quem é esta história? Mulheres de Poder,
logo, vamos ouvir as mulheres envolvidas. por hora homem não tem voz neste tribunal.
- Perfeita! – Diz Flor ao bater palmas.
Todas as amigas olham para Flor.
- Desculpa, gente. Me empolguei.
Isadora se vira para Marcella.
- Marcela o que você quer dizer? Ele bateu na namorada, é
isso?
- Não chegou a bater...
- Calma meninas, não é só agressão física que é violência. –
Diz Bella.
- Isso mesmo! – Completa Flor. – A garota tem razão em se
intrometer.
- Não põe lenha na fogueira, Flor. – Resmunga Milla.
- Não é lenha!
- Calma, gente! – Diz Bella. – Deixem a Marcela falar, e a
Luiza. Diz meninas, o que causou esta guerra e fez vocês derrubarem o som, “sem
desligar a música”. – Bella Sorri.
- Foi o seguinte. Estávamos brincando na piscina, e a Luiza
estava subindo e descendo e brincando, daí o Luiz Fernando ficou irritado e
disse que ia levar ela pra dormir por conta que ela tinha bebido muito.
- Todo mundo aqui tem 18 anos,
não é verdade? – Diz Bella.
- Mas isso também não quer dizer
nada, por que podemos ter resp... – Diz Flor.
Bella olha pra amiga com cara de
má.
- Ta, depois eu falo disso...
Bella concorda com a cabeça.
Todxs que estão ali respondem que
sim.
- Legal. Sendo assim, Luiz
Fernando, caso a Luiza não esteja se afogando ou necessitando de ajuda médica,
nem você ou ninguém deve segurar o braço dela com violência. Isso não está
certo.
A menina que discutia com Marcela
levantou a mão.
- Posso falar uma coisa?
- Lá vem o patriarcado. –
Resmunga Flor.
Todos olharam pra ela.
- Eu sou amiga do Luiz Fernando e
da Luiza. E sempre que saímos assim ela dá este tipo de show, fica bebendo...
- E se divertindo? – Diz Flor
atropelando. – E esta não é a intenção? – Ou quando ele está feliz com os
amigos é normal ela apertar os braços dele e mandar ele ir dormir.
- É bem capaz... – Responde a
moça.
- Olhem, eu não conheço o namoro
de vocês, se é uma relação abusiva para os dois lados, seria legal vocês fazerem
terapia nesta idade, pra quando ficarem adultos as coisas não ficarem pior. –
Diz Isadora.
Milla se aproxima:
- Gente, não adianta se meter
nisso. Briga de marido e mulher....
- Nem completa, Milla. Se não eu
vou ter que começar uma briga com você – Diz Flor.
- Tia, me desculpe. – Mas eu não
concordo com isso. Eu sempre falo disso com minha mãe e irmãs. – Diz Marcela. –
Não podemos deixar os machistas à vontade, não podem ir á qualquer lugar, serem
abusivos e todo mundo fingir que não ta vendo. O Matheus tentou me impedir e
levou um empurrão, por isso a caixa de som caiu, eu fui pra cima do Luiz, e
iria de novo. Comigo, na minha frente e onde eu estiver machista não se cria!
- Que linda! – Vibra Flor. – Quer
ir morar comigo por um mês? Por isso eu amo a juventude.
- Que bonita fala, Marcela. – Diz
Bella. – Você está certíssima. – E você erradíssimo Luiz. Relacionamento abusivo
não é bom pra ninguém, mas homens geralmente tendem a ser agressivos com mais
facilidade que as mulheres.
Luiz Fernando ficou quieto, com o
semblante envergonhado.
- Eu sei que não é fácil mudar,
mas olhe novamente a sua atitude. Isto não é amor. Precisamos oferecer
cursinhos antimachistas para toda a humanidade.
- Esta certíssima! Eu super
concordo. E é claro que devemos chamar a Marcela, ela foi certeira! – Diz Flor
com empolgação.
- Este caso não é pra chamar a
polícia, mas poderia ser. – Completa Bella.
Luiz arregalou os olhos.
- Falo que não é por que a
agressão não passou disso, mas e se ninguém intervisse e você continuasse a
agir como se fosse dono da Luiza? É bom vocês pensarem nisso. – Bella disse em
tom sério.
- Que bom que tudo foi resolvido,
mesmo que, temporariamente. Depois podemos conversar mais, ok. – Diz Isadora. –
Agora vamos entrar, tomar uma água...
- Desculpa, a todos. – Disse Luiz
Fernando. – E em seguida foi até a namorada. – Desculpa, eu vou cuidar disso em mim.
- Muito importante a sua atitude,
Luiz. – Diz Bella. – Mas é importante rever esta postura. Todos nós estamos
aprendendo sempre.
As amigas se aproximaram de Milla, que estava encostada na parede
com a cara emburrada.
- Ta tudo bem, Milla? – Pergunta
Isadora.
- Nossa, ainda bem que eu estava
aqui. – Diz Isadora.
- Que nada, Isadora. – Flor
interrompe aos risos. – Se você não estivesse aqui a Marcela resolveria tudo
numa boa.
- Concordo. – Diz Bella.
- Pois eu não concordo com
nenhuma de vocês. – Responde Milla irritada.
- Milla não fica brava com a
menina porque aquele seu comentário é do século passado, nada a ver falar
aquilo.
- Eu não tô nem aí por ela me
interromper, só que se ela vir me chamar de “tia” de novo eu vou falar: “Tia é
a sua avó”!
Todas gargalham.
FIM.
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