quinta-feira, 10 de março de 2022

Mulheres de Poder - Festa na Piscina

 

As quatro amigas estão num quarto conversando.

- Uma loucura mulheres da nossa idade com estas crianças. – Resmunga Milla.

- Tá me chamando de velha, Milla? – Responde Isadora espantada.

Milla gargalhou.

- Lógico que não amiga! Mas é estranho, fico um pouco deslocada.

- Pois eu adoro. – Diz Flor satisfeita. – A juventude é incrível.

- Eu não tenho outra escolha, preciso ir soltando o Matheus aos poucos. – Responde Isadora com certa aflição.

Flor encara a amiga de braços cruzados.

- Quem vê você falando pensa que o Matheus tem 5 anos.

- Eu estou aprendendo a ficar de boa, Flor. Será que você pode respeitar o meu tempo?

Milla levanta:

- Tomara que não dure até os 36 anos do Matheus. 

- Exagerada! – Reponde Isadora. – Meninas, o Matheus acabou de fazer 18 anos, não é de uma hora pra outra que a gente deixa o menino sair sozinho pra uma festa na piscina com os amigos.

As três amigas ficaram em silêncio encarando Isadora.

Neste momento ouve-se um barulho estrondoso, como se algo tivesse caído. Isadora fica pálida.

- Gente, o que foi isso?

-Vamos ver! – Diz Bella, e sai correndo puxando o “bonde das mulheres de poder”.

Assim que chegaram na piscina viram uma “briga” generalizada, tendo como trilha sonora um funk. 

Duas meninas discutem. Matheus levantava a caixa de som no alto. 

- Tia Isadora! – Grita a amiga de Matheus. – Ela para de discutir com uma moça e vem em sua direção.

- Tia!? – Resmungou Milla. – Se esta garota me chamar de tia, eu voo na cara dela.

- Cala a Boca, Milla. A coisa é séria. – Responde Flor.

- Mas me chamar de tia, também! -  Milla Retruca. 

Flor a fuzila com os olhos.

- Ta bom, ta bom....

- O que está acontecendo Marcela? – Pergunta Isadora quando percebe que todos estão assustados.

- O Matheus tentou me impedir, mas eu não aceito!

- Abaixa este som, pelo amor de Deus. Vamos enlouquecer. – Grita Isadora.

Bella abaixa o som, olha todos os “grupinhos”, e faz um movimento de calma entre os amigos e amigas. Os ânimos parecem se acalmar.  

A moça que discutia com Marcela está em silencio.

- Você pode falar o que está acontecendo, Marcela?

- Tia, este menino. Ela apontou pra um rapaz que estava de frente pra ela. – Então, ele é namorado desta menina, a Luiza. Ela estava brincando com a gente na piscina.

- Quem estava brincando? – Pergunta Milla.

- Todas as meninas, era um jogo de meninas! – Diz Marcela satisfeita.

- Tá e ai. – Responde Isadora.

- Daí este cara. – Ela apontou pro rapaz. – O Luiz Fernando, ele é namorado da Luiza.

- Continua.

- Ele tirou a menina da piscina feito um louco, segurando o braço dela com violência, só porque a gente estava se divertindo. Ele é muito machista!

- Espera ai, não foi assim também! – Disse Luiz se intrometendo.

- Calma ai rapaz! – Isadora levantou a mão na cara dele.

- Você sabe de quem é esta história? Mulheres de Poder, logo, vamos ouvir as mulheres envolvidas. por hora homem não tem voz neste tribunal.

- Perfeita! – Diz Flor ao bater palmas.

Todas as amigas olham para Flor.

- Desculpa, gente. Me empolguei.

Isadora se vira para Marcella.

- Marcela o que você quer dizer? Ele bateu na namorada, é isso?

- Não chegou a bater...

- Calma meninas, não é só agressão física que é violência. – Diz Bella.

- Isso mesmo! – Completa Flor. – A garota tem razão em se intrometer.

- Não põe lenha na fogueira, Flor. – Resmunga Milla.

- Não é lenha!

- Calma, gente! – Diz Bella. – Deixem a Marcela falar, e a Luiza. Diz meninas, o que causou esta guerra e fez vocês derrubarem o som, “sem desligar a música”. – Bella Sorri.

- Foi o seguinte. Estávamos brincando na piscina, e a Luiza estava subindo e descendo e brincando, daí o Luiz Fernando ficou irritado e disse que ia levar ela pra dormir por conta que ela tinha bebido muito.

- Todo mundo aqui tem 18 anos, não é verdade? – Diz Bella.

- Mas isso também não quer dizer nada, por que podemos ter resp... – Diz Flor.

Bella olha pra amiga com cara de má.

- Ta, depois eu falo disso...

Bella concorda com a cabeça.

Todxs que estão ali respondem que sim.

- Legal. Sendo assim, Luiz Fernando, caso a Luiza não esteja se afogando ou necessitando de ajuda médica, nem você ou ninguém deve segurar o braço dela com violência. Isso não está certo.

A menina que discutia com Marcela levantou a mão.

 - Posso falar uma coisa?

- Lá vem o patriarcado. – Resmunga Flor.

Todos olharam pra ela.

- Eu sou amiga do Luiz Fernando e da Luiza. E sempre que saímos assim ela dá este tipo de show, fica bebendo...

- E se divertindo? – Diz Flor atropelando. – E esta não é a intenção? – Ou quando ele está feliz com os amigos é normal ela apertar os braços dele e mandar ele ir dormir.

- É bem capaz... – Responde a moça.

- Olhem, eu não conheço o namoro de vocês, se é uma relação abusiva para os dois lados, seria legal vocês fazerem terapia nesta idade, pra quando ficarem adultos as coisas não ficarem pior. – Diz Isadora.

Milla se aproxima:

- Gente, não adianta se meter nisso. Briga de marido e mulher....

- Nem completa, Milla. Se não eu vou ter que começar uma briga com você – Diz Flor.

- Tia, me desculpe. – Mas eu não concordo com isso. Eu sempre falo disso com minha mãe e irmãs. – Diz Marcela. – Não podemos deixar os machistas à vontade, não podem ir á qualquer lugar, serem abusivos e todo mundo fingir que não ta vendo. O Matheus tentou me impedir e levou um empurrão, por isso a caixa de som caiu, eu fui pra cima do Luiz, e iria de novo. Comigo, na minha frente e onde eu estiver machista não se cria!

- Que linda! – Vibra Flor. – Quer ir morar comigo por um mês? Por isso eu amo a juventude.

- Que bonita fala, Marcela. – Diz Bella. – Você está certíssima. – E você erradíssimo Luiz. Relacionamento abusivo não é bom pra ninguém, mas homens geralmente tendem a ser agressivos com mais facilidade que as mulheres.

Luiz Fernando ficou quieto, com o semblante envergonhado.

- Eu sei que não é fácil mudar, mas olhe novamente a sua atitude. Isto não é amor. Precisamos oferecer cursinhos antimachistas para toda a humanidade.

- Esta certíssima! Eu super concordo. E é claro que devemos chamar a Marcela, ela foi certeira! – Diz Flor com empolgação.

- Este caso não é pra chamar a polícia, mas poderia ser. – Completa Bella.

Luiz arregalou os olhos.

- Falo que não é por que a agressão não passou disso, mas e se ninguém intervisse e você continuasse a agir como se fosse dono da Luiza? É bom vocês pensarem nisso. – Bella disse em tom sério.

- Que bom que tudo foi resolvido, mesmo que, temporariamente. Depois podemos conversar mais, ok. – Diz Isadora. – Agora vamos entrar, tomar uma água...

- Desculpa, a todos. – Disse Luiz Fernando. – E em seguida foi até a namorada. – Desculpa, eu vou cuidar disso em mim.

- Muito importante a sua atitude, Luiz. – Diz Bella. – Mas é importante rever esta postura. Todos nós estamos aprendendo sempre.

As amigas se aproximaram de Milla, que estava encostada na parede com a cara emburrada.

- Ta tudo bem, Milla? – Pergunta Isadora.

- Nossa, ainda bem que eu estava aqui. –  Diz Isadora.

- Que nada, Isadora. – Flor interrompe aos risos. – Se você não estivesse aqui a Marcela resolveria tudo numa boa.

- Concordo. – Diz Bella.

- Pois eu não concordo com nenhuma de vocês. – Responde Milla irritada.

- Milla não fica brava com a menina porque aquele seu comentário é do século passado, nada a ver falar aquilo.

- Eu não tô nem aí por ela me interromper, só que se ela vir me chamar de “tia” de novo eu vou falar: “Tia é a sua avó”!

Todas gargalham.

FIM. 



Texto: Grazy Nazario.

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