Sentadas de frente para a piscina, Flor e Isadora mexem no celular, quando ouvem a voz de Milla.
- Podem parar com esta palhaçada de
ficar no celular. – Eu quero uma cerveja, to morrendo de
sede.
- Senta ai maluca! – Diz Flor enquanto enche seu copo.
- Por que tanta agitação? Hoje
ainda é sábado! – Resmunga Flor.
- Vamos falar dos detalhes da
viagem – Diz Isadora apressada.
- Calma, primeiro eu quero falar
do Evandro. – responde Milla.
- Quem á este? – Isadora fez cara
de espanto.
- A Flor conhece.
- Conheço? – Flor fez cara de
ueh.
- Lógico! – Responde Milla irritada. – É aquele cara que conhecemos juntas no aniversario da Ju...
Flor continua calada, e pensativa.
- Vocês ficaram conversando horas
sobre a caça aos animais...
- Lógico que me lembro! – Flor dá
uma risada. – Ele era amigo deste, ou primos, não sei bem.
- Então... Acho que ele é gay! –
Diz Milla. – Acho não, tenho certeza. – Ela torce o nariz.
- E por que você tem tanta
certeza disso, Milla? Ele falou alguma coisa? - Pergunta Isadora.
- Tem certas coisas que não
precisa dizer, né gente, é só prestar atenção nas atitudes.
- Ele saiu com você e negou fogo?
– Flor colocou a mão na boca com os olhos arregalados.
- Não. – Diz Milla. Pior que
isso!
- O que pode ser pior que isso
neste caso? – Isadora põe a mão no queixo pensativa. – Diz logo que to curiosa!
- Eu chamei ele três vezes pra
sair e ele me esnobou, não quis nem me conhecer, tomar alguma coisa... Nada!
- E o que isso tem a ver? – Isadora levanta as sobrancelhas.
- Como assim amiga, ele só pode
ser gay!
Flor balançou a cabeça.
- Essa foi a coisa mais machista
que você já disse!
- Machista mesmo, com certeza,
Milla. - Repetiu Isadora.
- Então me diz por que ele não
quis sair comigo? – Ela bufa. – Por um acaso eu sou feia, desinteressante, sem
graça? Por que um homem heterossexual não sairia com uma mulher como eu?
- Pelo mesmo motivo que não saímos
com qualquer homem! – Flor responde imediatamente.
- Você ta falando serio, Mila? –
Isadora gargalhou. – Você não sabe ouvir um NÃO de um cara. Ta andando muito
com homens, não é possível!
- Não é isso. – Mila começa a
falar devagar. – É que não da pra entender por que o cara se recusou a sair
comigo. – Ela mexe nos cabelos. – Mesmo que fosse só pra gente conversar e se
conhecer. Se ele é solteiro e eu também, na minha visão ele é gay e não quis
ser indelicado.
- Me lembrei de um filme agora. –
Isadora começa a rir. – É com aquele ator Mel Gibson, ele fica ouvindo os
pensamentos das mulheres e certa altura do filme diz pra uma mulher que ele é
gay, só pra não magoar ela.
Flor começa a rir.
- Eu me lembro deste filme. É
muito bom!
- Para, gente! – Interrompe Milla
com a cara fechada. – Que mané filme, vamos para o meu assunto. Foco!
- Se for pra falar em foco, temos
que falar da viagem que ninguém lembrou que existe! - Resmunga Isadora.
- Daqui a pouco Isadora, calma. –
Milla levanta as mãos. – Isso é coisa séria.
Diz Flor, você acha que ele é
gay, ele dá pinta?
- Gata, eu não vi ele dando
pinta, não. – Flor bebeu cerveja. – Amiga, seria legal a gente entender que os
caras também podem dizer não, do mesmo jeito que nós dizemos.
- Acho que estão tudo mole! - Bufa Milla.
- Você não sabe o que quer! –
Grita Isadora. – Se os homens vão pra cima são atirados demais, se não vão são
gays. Isto é pensamento do século passado, Milla, as coisas mudaram.
- Mudaram pra pior.
- Milla, pensa comigo.
Antigamente, nessa mentalidade sua ai, só os homens chegavam nas mulheres, a
gente não tinha esta liberdade de tomar a iniciativa.
- E o que isso tem a ver. – Milla
retruca irritada.
- Tem a ver que a gente falava
Não pra vários caras que a gente não queria ficar. E os homens atiravam pra
todos os lados, por que as mulheres viam as relações de forma diferente.
- Não to entendendo nada! – Milla responde decepcionada.
- O fato é que o cara pode não
ter ido com a sua cara. – Isadora jogou as mãos pro lado. – Tipo o santo não bateu
mesmo.
- E por que ele me responde as
mensagens?
- Por que não quer ser indelicado?
– Diz Flor.
- É... – Milla lamenta. – Pode ser...
- Sim. E isso não é o fim do
mundo, gata. – Flor mexe nos cabelos da amiga. – Força na peruca! Quem arrisca convidar corre o risco de receber não, ou sim. Este é o preço da liberdade
conquistada pelas mulheres.
- A parte chata você quer dizer
neh! - Milla revira os olhos.
- São consequências. – Responde Isadora.
– Se o cara não topou com a sua cara, pra que sair com você? Vai fazer você perder
o seu tempo e ele o dele, assim pelo menos age na honestidade.
- A honestidade as vezes
atrapalha. – Milla exclama. – A gente perde chance de conhecer as pessoas.
- Não perde nada! Quando você não
quer nem adianta insistir. – Flor a olhou nos olhos. – O homens também tem o
direito de dizer não, e temos que aprender a conviver com isso e seguir nossas
vidas.
- Então bora seguir a vida, e
chega desse assunto. – Diz Isadora.
O celular da Flor toca.
- Vixe, é o amigo do seu suposto gay.
Todas se olham, Flor levanta para
atender. Minutos depois senta-se na cadeira com os olhos arregalados.
- Vocês não vão acreditar.
- Diz logo! – Milla soltou um
grito. – Ele disse que o seu cara é gay mesmo!
Flor gargalha.
- Acho que eles são um casal.
- Acho que eles são um casal.
- Por esta eu não esperava. – Isadora arregala os olhos.
- Jura! – Grita Milla ao
gargalhar. – Eu falei, isso tava muito estranho, eu nunca tinha visto isso.
- Eu to brincando. – Flor balança a cabeça, e começa a rir. – Ele me chamou pra sair
Milla arregalou os olhos.
- Mentirosa, sem graça!
- Mentirosa, sem graça!
- Eu disse que ia pensar, por
conta da viagem e de não querer me envolver com ninguém agora. Espero que ele
entenda e não me chame de lésbica por conta disso.
- Engraçadinha! – Milla revira os
olhos. – Vamos falar da nossa viagem.